sábado, julho 31, 2010

Sonhar o ser

Quando criança
sonhava muito...
falar vários idiomas...
viajar a todos os mares...
quis ser cientista
pra dissecar cadáveres,
conhecer extraterrestres,
viajar pra um planeta distante...

maior,
pensei em ser banqueira,
pra me tornar milionária,
artista plástica,
pra colorir o mundo,
aeromoça,
pra cortar os ares,
já quis ser puta,
pra ter todos os amores,
médica,
pra curar as dores,
já quis ser freira,
e orar pelo mundo,
pedir carona que nem vagabundo,

em todos os meus sonhos,
representava eu um papel,
bandida, a vilã ou então a mocinha,
nunca pensei ser simplesmente eu,

hoje, após tantos anos,
continuo querendo muito,
mas, se alguém me perguntar sobre o que ser,
tenho eu outra resposta,

um eu grande...

quarta-feira, julho 28, 2010

Férias

Eu e as crianças estamos perdidos aqui no interior de Minas, em um lugar onde o acesso a internet ainda é a manivela e o moden que deveria estar vivo está meio morto, o celular definitivamente deixou de ser celular, agora somente fotografa, não há acesso remoto em terras remotas. Assim, o silêncio dos comentários não é proposital ou retiro espiritual, é falta de tecnologia mesmo.

Se eu não me perder de vez, estarei de volta no sábado!

Beijos e saudades de todos!

segunda-feira, julho 26, 2010

Escrever é...*

cortar fundo o peito
tão fundo
que no abrir encosta-se na alma
o ato, como navalha afiada 
faz da palavra autópsia
expondo muito mais que as vísceras 
expõe a face nua
a carne recém aberta
feridas
lembranças, e todas as alegrias
escrever é purgar culpas 
desenhar medos 
omitir desejos 
revelar segredos 
escrever é ser
simplesmente ser 
sem dó ou piedade 
ser, na pura acepção da palavra
questão semântica e romântica 
sintaxe existencial

* - Texto enviado para a campanha do Blog Escritores em Andamento

domingo, julho 25, 2010

Se

ponderou tanto,
entre um sim e um não, 
ao longo da vida, 
que agora tem uma vasta coleção de “ se”s, 

ao invés de vida.

Dias genéricos agradece "Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable"



O Dias genéricos recebeu do blogue A Arte de Paulo Sérgio Zerbato o selo  "Blog Amigable", quero agradecer muitíssimo, é um alento aos nossos invernos. Beijo Paulo!

Através deste selo são premiados os blogueiros que transmitem valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras e imagens.

Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web. 

É de bom tom que, quem recebe o “Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable” e o aceita, siga algumas regras:

1-Exibir a Distinta Imagem;
2-Apontar o Blogue pelo qual recebeu o prêmio;
3-Escolher uma quantidade de pessoas de sua preferência e a um blog de cada pessoa escolhida oferecer o “Prêmio Muchas Gracias Al Blog Amigable”.


Lista de Blogues:

8 - Rasuras

O espaço foi pequeno, então ofereço, me lembrando rápido, à Sarah (não sei onde se encontra), ao Helcio  (Palavra Fátua), ao Saulo Taveiro (Partituras), Canto da boca, Mônica (Real Valor) e a todos os outros não mencionados. 

Na verdade, esse selo é pra todos vocês que investem neste espaço tempo, sentimento e vida, para compartilhar conosco muito mais que palavras! 

Um beijo enorme!

sexta-feira, julho 23, 2010

Estações em mim

Em mim as manifestações de inverno são passageiras, na verdade, minhas estações são acíclicas, posso primaverar durante o outono, invernar no verão, bem como o período de duração bailar pelo incerto, talvez como um planeta bem distante, onde as estações têm o período que lhe apetecem. Posso passar também longos períodos sem estação alguma, árida, estação da seca, e terminar na estação das águas, completamente inundada.

Tudo em mim é incerto, estações, dias, noites, ventos e tempestades... não, meus passos são resolutos, firmes, passos de general, mesmo que eu não conheça o caminho...

segunda-feira, julho 19, 2010

Inverno interno

Passeio de inverno 2
Foto:António Costa - site Olhares



Manhã fria de inverno, sem contorno, dessas que a gente aperta o casaco pra definir limites e segue*... Sigo. Resoluta. Passos firmes que ecoam no caminho. O vento corta, o frio entristece... Sinto frio, frio na alma, nem o casaco pesado ou o cachecol ajudam a impedir o vento. Há vento em mim, o frio é interno, inverno interno. Nem sei porque caminho, nem sei o que busco..., algumas vezes penso que corro pra fugir, fugir das palavras que me perseguem cobrando significados. A página que carrego em minha mão está em branco. Página branca, manhã branca, névoa branca, um branco que é a ausência de meus significados, não faço sentido. Riso seco, metáforas vazias de uma vida também vazia. A vida sem dentes escarnece de mim e balança a cabeça cansada mostrando a tolice de quem pretende o vir a ser, pretensões, ilusões esboçadas em uma manhã também fria e distante, quando o inverno era só uma estação.


*P.S - inspiração vinda do post Atol da Bípede Falante. Lindo texto, assim, como suas indagações. Obrigada, moça.

sábado, julho 17, 2010

Manhã na praça *

Pegue uma xícara de chá quente ou então café, e saboreie o texto e a bebida nesta manhã chuvosa. 


Sentou-se à praça como quem não quer nada, como se não houvesse nada a fazer, nem filhos, nem marido ou trabalho. O doce sabor da rebeldia. Estava uma manhã agradável, dessas que convidam a celebrar a vida. Uma decisão acertada.

Nada premeditado, simplesmente aconteceu. Quando subiu as escadas do metrô e foi surpreendida pelo azul do céu, se deixou guiar pelas ruas como quem admira de forma displicente os passantes, as vitrines, a arquitetura dos prédios, os pombos nas igrejas. Inspirou o ar puro da manhã, era turista em sua própria cidade! Nunca havia sido turista em lugar algum, desconhecia tal sensação.

Continuou caminhando até chegar a uma praça. Praça, como tantas outras, de outras ruas, de outros dias, de ontem, mas hoje, embora simplesmente uma praça, era a sua praça. Escolheu cuidadosamente onde sentar, como se o lugar definisse o destino do dia. Sentar ao sol, embaixo da árvore, perto do homem,..., norte, sul, leste, oeste..., nunca fora boa em geografia... Onde sentar..., virou-se, caminhou e sentou-se. Boa escolha, sentar ao sol.

No entanto, ficou nervosa, não sabia o que fazer, como sentir o sol, onde colocar as mãos. Era tão simples, simplesmente ser e estar e deixar acontecer. Tinha que aprender a ser mais espontânea. Tanta coisa a aprender e tantas decisões a tomar, 38 anos. Marido, filho, trabalho.

Estava realmente nervosa, não conseguia decifrar o sentimento. Remetia a algo passado, quando jovem e se preparava para um primeiro encontro. O medo de encontrar o desconhecido, ficar cara a cara com a surpresa do novo, ser desvendada e desvendar. Havia um certo estresse, era como se fosse aguardada, esperada de forma ansiosa por alguém. Cristina, sentada no banco, perdida de si, perdida da vida, ainda não havia se dado conta, de que o encontro, era com ela mesma. Um encontro muito aguardado e sempre adiado.

Remexeu a bolsa, procurando algo, tentando dissimular o crime cometido, o furto de uma manhã de trabalho. Não havia delito algum, não havia sido apanhada em flagrante. Tentou conter a culpa, se lembrou de praticar o exercício que a terapeuta havia ensinado. Respirar, 20 vezes, quatro de forma rápida e curta e uma profunda e longa. Começou, inspirou e expirou, perdeu as curtas, as longas e as contas. Recomeçou e abandonou o exercício. Achava aquilo um saco, sempre perdia a conta e sempre mentia para a terapeuta que estava praticando religiosamente. Divertia-se com a terapeuta, pregando pequeninas mentiras ingênuas sem grandes efeitos, feito menina sapeca.

Estava mais calma, ponderou se era resultado do exercício. Talvez funcionasse mesmo. Inspirou profundamente e, largou o corpo. Bem melhor. Estirou o pescoço para trás, deixou a cabeça pender de forma lânguida sobre o encosto do banco e se ofereceu sem pudor ao sol. Recebeu em troca um cálido beijo de amante novo. Os cabelos deslizaram desnudando a face. Era bonita. Há quanto tempo não percebia o calor do sol na pele, hhumm... como era gostoso. Pensou em sexo, há quanto tempo não tinha um orgasmo, pensamento furtivo, tentou se lembrar de cabeça, recorreu aos dedos, deixou pra lá. 38 anos. Olhou a volta receosa, como se alguém pudesse ler seus pensamentos mais íntimos, ora, pensamentos são sempre íntimos, ou não?

*P.S - Reedição - Quantas vezes nos esquivamos dos encontros, quantas vezes desviamos o olhar do espelho, quantas vezes fugimos de situações e deixamos para o tempo ou a vida resolverem....


quinta-feira, julho 15, 2010

Ritual de desapego

sua cabeça em meu travesseiro
a minha volta suas memórias
meu pobre corpo
sua ausência não entende
assim, persisto
uma insistência ilógica
onde fantasio, e
sempre te recrio

e, neste exercício louco
entre vida e memória
me confundo e me perco
tento como dever diário
fazer de minha rotina
um ritual de desapego

no entanto
sei que te carrego
por toda a eternidade


terça-feira, julho 13, 2010

Perfil

sou assim,
largada, vaidosa,
vadia, sapeca,
meus atos,
desatos da vida,
sou imprevisível,
imprevisível do imprevisível,

se choro,
ou se rio,
se transbordo,
ou me encolho,
sou mutante,
sempre,
ser mutável,
inconstante,

árvore que dobra ao vento,
diz a lenda chinesa,
e assim, continuo meu caminho
aos trancos e tamancos,

sempre e sempre e sempre...



domingo, julho 11, 2010

O amanhã não existe*

o amanhã não existe...

existe somente uma seqüência de hojes...
estamos presos na armadilha do tempo
sempre o tempo presente. 
tempo passado e futuro contido no tempo presente
irremediável tempo infinito
sem saída para nenhum outro tempo, sem fim...
o tempo presente não tem fim
é irremediável, infinito nele mesmo. 




P.S - Homenagem ao Thomaz que já descobriu isso lá atrás


quinta-feira, julho 08, 2010

Cabelos ao vento *

Algumas vezes não sabemos a razão que nos leva a tomar determinada decisão, talvez, seja simplesmente a resposta rápida a algum tipo de angústia não identificada. Racionalmente não haveria espaço nem lugar para tal decisão, mas ela vem surgindo como um movimento sutil e quando você se dá conta, a ação já tomou lugar. Aprendi com um amigo sábio, que se há algum desconforto na alma, a origem deste desconforto deve ser removida o mais rápido possível, pelo bem de nossa paz de espírito, óbvio, e de toda nossa existência.

Algumas vezes quando tento me dar conta da justificativa lógica para fundamentar determinada decisão, uma coisa engraçada acontece, a resposta não me vem como uma idéia construída de forma elaborada, escrita. A resposta toma forma de uma imagem, muita forte, vem como uma cena de um filme que se repete ao longo do dia, inclusive com regras de enquadramento e luz. Essa é a única resposta que eu tenho.

Pois bem, recentemente uma imagem me persegue, na verdade, uma cena. Um carro em alta velocidade, um conversível antigo, claro, contra um céu azul, uma mulher ao volante, feliz, tranqüila, cabelos curtos e louros ao vento. A imagem é vista de baixo e parcialmente de trás, como se a câmara tivesse na altura da roda, na lateral esquerda, visualizamos parte do perfil da mulher. Determinada em seguir a diante, mas sem arrogância ou rigidez, serena com o vento, ela segue. A sensação é de liberdade, de correr ao encontro da vida. Liberdade suprema do existir. O vento refresca a alma, o sentir. Não há prisão, não há correntes, não há elos, pendências... Vida livre que curte a tarde, ou manhã de abril ou maio de céu azul, uma temperatura agradável que alegra e faz querer suspirar. “We are on a road to nowhere...”, toca a musica na rádio imaginária, trazendo lembranças de ontem... Talvez uma tarde de verão nas estradas das montanhas rochosas, contra o mesmo céu azul e a mesma temperatura agradável.

A música, trilha sonora da imagem, trilha to nowhere, momento to nowhere. O que importa é o tempo presente, momento vivido aqui e agora. O amanhã não existe, já dizia o poeta, bem como meu filho, do alto de seus 5 anos. 

Sim, o amanhã não existe. Lembremos, existe somente uma seqüência de hojes. Estamos presos na armadilha do tempo, sempre o tempo presente. Tempo passado e futuro contido no tempo presente, irremediável tempo infinito, sem saída para nenhum outro tempo, sem fim. O tempo presente não tem fim, é irremediável, infinito nele mesmo. Podemos variar de lugar, cores, roupas, sensações, mas o tempo presente é o mesmo.

Assim, deixemos a divagação e voltemos à mulher. Como se chama? Vai a algum lugar? Foge de alguma coisa, alguém? Ou é simplesmente uma mulher, a dirigir um carro, como sua própria vida, segura de seus caminhos, resoluta. O cenário se repete como uma imagem em looping, não há figurantes, cenário alternativos, árvores, pedras, pássaros. Somente o carro, a mulher, o céu azul, a estrada e os cabelos, ao vento. A velocidade aumenta a sensação de liberdade e o sentimento de poder, é um quase voar. Voar no tempo presente.

Corta a cena. Voltemos ao hoje, o aqui e agora, não mais o nowhere, mas o now here. (insight de um amigo)

Não me perguntes aonde vou,
o que sentirei amanhã,
se serei gorda ou magra,
o que vestirei ou comerei,
Certezas?
Poucas.
Meu nome, gênero e naturalidade.
Certezas pesam e não quero bagagem,
decidi viajar leve,
levar somente os desejos do momento,
o sim do agora,
o querer do aqui.
Planos? Sim, vários...
Com orientações e mapas,
Todos flexíveis!
A rota é alterada sempre que for necessária.
Felicidade do momento presente.

* P.S. - Reeditado, simplesmente, pela pura vontade de sentir o vento...

terça-feira, julho 06, 2010

MEDO

o que foge a nossa compreensão, tememos...
o que foge a nossa construção, tememos...
temos medo de falhar, 
como também do sucesso...
temos medo da solidão, 
mas também de relacionamentos...
temos medo da morte, 
mas também do viver...

O medo da morte paralisa para a vida, 
mas o medo da vida, 
o não fazer, 

eterniza a morte a cada instante.

domingo, julho 04, 2010

Novo Blog Jujubas Génericas

Tenho um menino de 9 anos e uma menina de 6 anos, Thomaz e Anita. Como boa mãe sou pra lá de coruja, me orgulho de cada passo, me angustio a cada nova dor e descobrimento. Esse universo infantil é bem rico, muitas risadas diárias e muito choro também. Assim, decidi compartilhar com vocês um pouco da vida deles, dois seres esquisitos e interessantes. Espero que gostem!

clique aqui > Jujubas do Thomaz e da Anita

sábado, julho 03, 2010

De(u)s(H)umana

Somos humanos...
demasiadamente humanos...

entre a linha tênue do ser e não ser
habitam as feras, as bestas

na porta fechada da noite de cada um
desumanos atos desnudam sentimentos
cortam a carne deixam exposta a ferida

corro à frente do espelho e avalio
olhos, cabelos, boca
tudo em seu lugar
a metaformose mulher besta não ocorreu

enfim, continuo humana
demasiadamente humana
e, totalmente, desumana em meus atos de desafeto

p.s - Interessante a vida, pra uns sempre fui humana demais, generosa demais, sentimental demais, talvez um pouco demais! Para outros fui faltosa, um olhar que não dei, uma dor que não acolhi, enfim, desumana.   
Humana, desumana ou deusa? A escolha é sua!

Deusa

hoje acordei me sentindo deusa
posta imortal no olimpo
não temo a finitude da vida
o peso da decisão
premido entre segundos
nem busco o infinito do agora
preso no lapso nano momento

como deusa
me desfaço dos tolos medos humanos
sou infinita
infinito ser...
éter...

minha estranha aparente calma
rendeu-me alta da analista
desconhece ela
que brinco de ser deus

e, sendo DEUS...

EU CONTROLO O UNIVERSO!

p.s - Rsrsrs, queria muito que minha analista lesse o poema acima! Obviamente que ela nunca me deu alta, fugi dela...

sexta-feira, julho 02, 2010

Anoitece *

tardes melancólicas
mesmo o vento é silencioso
a sombra nas folhagens traduz uma tristeza
que perpassa o vazio entre os galhos
e se mistura aos últimos raios de sol
momento etéreo
entre a sombra fria
e o sol, que ainda ilumina
o céu de um azul profundo
se mostra límpido
o olhar através da janela mostra
o fim do dia...
os carros passando...
lembrando lhe a solidão
sua condição de ser perdido
das tardes da vida
quando a noite cai
e você fica só


* Reeditado - Durante muito tempo cultivei uma solidão inóspita, cultivei não, me habitava, me invadia, era sua hospedeira. Com o tempo e, também, pós várias terapias, de origens diversas, ela se modificou, de invasor passou a ser companheira. Agora, não estou mais só, virou uma leve nostalgia, um suspiro fundo que carrego no peito, andamos de mãos dadas e a afago quando se entristece.