quarta-feira, setembro 30, 2009

Humana

Somos Humanos,
demasiadamente humanos,

entre a linha tênue do ser e não ser,
habitam as feras, as bestas,

na porta fechada da noite de cada um,
os desumanos atos desnudam sentimentos,
cortam a carne e deixam exposta a ferida,

corro a frente do espelho e avalio,
olhos, cabelos, boca,
tudo em seu lugar,
a metaformose mulher besta não ocorreu,

enfim, continuo humana,
demasiadamente humana,
e, totalmente desumana, em meus atos de desafeto.

Deusa

hoje acordei me sentindo deusa,
posta imortal no olimpo,

não temo a finitude da vida,
o peso da decisão,
premido entre segundos,
nem busco o infinito do agora,
preso no lapso nano momento,

como deusa,
me desfaço dos tolos,
pequenos medos humanos,
sou infinita,
infinito ser, éter...

minha estranha aparente calma,
rendeu me alta da analista,
desconhece ela,
que brinco de ser deus

e, sendo deus,
eu controlo o universo.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Digressão de uma vida não plana

Somos agora multi, multi indivíduos, acompanhando a lógica do multi universo. Descobriu-se, apesar das não provas, que o universo não é mais uni, agora, é multi, assim é multiverso. E, nós seres, até então unos e individuais em nossos universos, somos agora multíviduos. Continuamos sendo uno, mas, multi nos vários papéis que desempenhamos. Será aqui também a soma das partes maior que o todo? A soma do nós em mim (meus vários eus)é maior do que o meu eu, único individuo? Equação interessante... Basta matematizar a construção do eu e minha atuação dentro deste universo múltiplo e encontro minha fórmula. Múltiplos eus em múltiplos universos.

Afinal, quem somos? Podemos nos desfazer das várias camadas assumidas, como papéis personagens de mundos distintos? Dentro do nosso eu habita um sistema complexo de vários papéis interações com seus outros papéis (interações) de seu outro eu. A cada interação há uma construção nova, nova variável que não pode ser desassociada de você. Você é o pai, o filho, o marido, o profissional, o cliente, o fornecedor, o amante e o poeta, com papéis distintos dentro dos vários universos. Interações coexistem simultâneas nos vários papéis.

Teoria dos conjuntos, conceitos primitivos, alguns são eventos excludentes ou, talvez, não. Como coabitar dentro de mim tantos eventos, e alguns excludentes? Explicam-se, aí, as culpas das noites de cada um. Posso efetivamente me despir de minhas várias camadas e me apresentar desnudada de mim?

Há um conjunto vazio?
O meu conjunto vazio não se apresenta vazio.
A minha essência desnuda, talvez, minguada, tal qual um individuo de Biafra não é vazia, é conjunto universo.

domingo, setembro 20, 2009

Ausência do verbo

Neste instante me vejo muda, calada, ausente de palavras e símbolos, perdida de significados. Qualquer instrumento afinado para tocar, descrever o momento. Notas surdas silenciam. Contemplação. Céu escuro pontilhado de estrelas. Infinitude. O ser desperto alça vôo e contempla sua própria eternidade. Mergulha no azul da prússia do universo, viaja a mais longínqua galáxia e traz poeira de estrela no bolso da alma. Quem somos e o que fazemos das nossas culpas, dos remorsos e todos quereres, tudo, tudo se perde neste abraço perfeito, na dobra do corpo que recebe o beijo. O caminho de volta para sempre perdido nas encruzilhadas das curvas, nos declives dos montes e bifurcações.

Cavalgada no prado, capim gordura que ondula, cheiro de mato, rocio cedo que umedece a face. O cavalo veloz imprime velocidade e voa no vento. Na corrida urgente carrega cabelos, boca, a mão que afaga a face. Beijos alados, doces, suaves, do sabor da flor, do amor, da paixão que vicia. No céu azul teu olhar na lua branca luzidia.

Quando a noite se esconde e as estrelas repentinam se apagam, os corpos no caminho se perdem. Na perdição dos sentidos, a respiração trôpega se corta e entrecorta, suspensa lança os corpos em fuga, cúmplices das sombras mudas. Fogem alados os dois aliados, voam alto bem alto, puros e inocentes voltam ao paraíso, de onde foram há muito deportados, e agora retornam, à casa, finalmente, perdoados. Parceiros da louca aventura em caminho acidentado. A nau sem porto que resgata o branco da espuma da onda que finda na praia. Viagem louca, caravana sem pouso, itinerante, de países perdidos e mares distantes. Seres encantados de contos de fadas, habitantes de cavernas e grutas escuras, despertos da hora convidam a celebrar.

Não quero voltar, me deixe lá, me abandone ao relento, perdida nas pedras, na areia, abraçada ao tronco da árvore, carvalho em flor. Quero ficar esquecida, esquecida de mim, da vida, perdida neste espaço de tempo nano eterno da minha pequena morte. Ah me deixe morrer, a morte é doce e nela me encontro.

Abro os olhos e nos vejo, abraçados, a representação do mais belo, estética divina, pintura, musica e toda poesia. Afinal, compreendo e sorrio tranqüila, agora sei, para este momento o verbo ainda não foi inventado.

Memórias e ossos

hoje acordei lúgubre,
saudosa de todos os momentos,
para sempre perdidos,
nunca possíveis, passiveis
de serem recuperados

perderam-se,
tal qual poeira ao vento,

assim como seu beijo,
a brincadeira na sala de estar,
sua risada gostosa,

ficaram os passos.
passos que ecoam na memória,

e, meu corpo carrega,
como meu saco de ossos.

sábado, setembro 19, 2009

Corvos e Girassóis

Quando escrevi o poema abaixo, eu havia recebido um conto de uma amigo que falava de corvos. Quando estive em Viena fiquei apaixonada pelos corvos nos parques, pelas árvores secas sem folhas, pelo inverno... O email desse amigo tinha o título de Corvos e Girassóis, por conta de um quadro meu chamado girassóis e, obviamente, por conta de seu conto.  Imediatamente me remeteu a Van Gogh, e me deu uma vontade louca de escrever. Fui contaminada pela compulsão de Van Gogh, e desde então tenho escrito bastante. Escrito sentimentos, emoções soltas, palavras borradas no papel e, agora, na telinha. Espero que gostem, se sensibilizem, e parem, nem que seja por um segundo, para sentir. Sentir o ar, a flor, o céu azul, a vida...

Céu azul,
Transcendência do ser,
Limites, emoções, razão

à ausência de culpas e crenças
o ser mais leve flutua,
“Insustentável leveza do ser”
Os girassóis à volta
Bailam o momento,
Tempo de vida.

Um mundo de corvos
fugidos de outro quadro talvez,
pintam o céu,
revoam sobre as flores,
grasnam a solidão,
o frio do inverno,
o frio da vida...

Sentimentos que mesclam,
Lucidez e loucura
Vida e morte
Amor e dor



sexta-feira, setembro 18, 2009

....Estrela, sede, viagem, encontro...


A estrela que brilha na borda da taça de cristal
É rubra,
Tremula na transparência a luz
Lançando cor no branco da toalha de linho,
E deixa um rastro tinto,
De vida e paixão,

Não tenho sede de um copo de vinho,
Tenho sede de ti,
beber-te inteiro,
Sorver gota a gota,
Feito vinho mais precioso,
Quero beber todos teus líquidos,
pensamentos, emoções e gestos,
beber teu cheiro e tua risada,
A ruga do canto dos olhos,
Tuas lágrimas,
Para jamais vê-lo chorar,

Quero beber-te,
Beber, beber e me embriagar,
E bêbada, sair numa viagem louca,
Passear nas palavras da página de um livro,
Em meio às flores de um campo de girassol,
No revoar com os corvos, no parque,
Nesta viagem, sou eu e sou todas,

A sombra da pedra da manha orvalhada,

E, como bêbado perdido na mais pura noite,
Vou beber-te continuamente,
E no traçado torto dos meus passos,
A cada gota me aqueço,
A cada gota me perco,
E, no entanto, me acho,
Sempre um pouco mais.

terça-feira, setembro 15, 2009

Ausência

sua cabeça no meu travesseiro,
a minha volta, suas memórias,
meu pobre corpo,
sua ausência não entende,
assim, persisto,
uma insistência ilógica,
onde fantasio, e
sempre te recrio,
e neste exercício louco,
entre vida e memória,
me confundo e me perco.
Tento como dever diário,
fazer de minha rotina,
um ritual de desapego,
no entanto,
sei que te carrego,
por toda a eternidade

Guardiã

algumas vezes não me recordo da cor do seus olhos,
mas as lembranças me levam…
como folha ao vento,
trazendo imagens de ontem,
impressas num filme antigo,
em branco e preto,

lembro-me de dedos cegos,
que trilhavam caminhos,
de uma boca sôfrega,
que sugava-me os seios,
de quadris arquejantes...

e eu, a te observar dormindo,
velando teu sono,
na tarde triste,

transcorriam segundos, minutos, séculos,
do meu posto de guardiã,
eu eternizava o momento.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Falta de sincronia

As palavras não acompanham os discursos,
fogem apavoradas rejeitando definições,
O discurso tão pouco, segue os atos,
Ou, talvez, os atos abandonaram o discurso ao longo da via.
Andam a esmo, sem bussola ou mesmo um GPS.
Discurso sem palavras.

Atos ausentes de discursos.
Atos, palavras, discursos.
Atos, discursos, palavras.
Discursos, atos, palavras.
Discursos, palavras, atos.
Equação que não se fecha.

Meus discursos são vazios de palavras,
palavras vazias de atos
que seguem por vias distintas.
Por que não dizer trilhas?

Precisa-se de domadores.
Domadores de palavras.
Palavras que obedeçam discursos,
e referenciam-se em atos.
Pede-se o uso da não violência.
Palavras são frágeis e sensíveis,
e apavoradas podem se perder.

Pede-se também rastreador de atos,
que saiba seguir trilhas passadas, presentes e quiçá até futuro,
Que saiba interpretar pegadas e rastros,
Deixados na poeira do acaso.

Para finalizar, uma boa costureira,
dessas bem prendadas,
que é para fazer um bonito patchwork.
Que seja atenta aos detalhes,
que tenha harmonia e equilíbrio na composição,
Tenho certeza, que com linha e agulha,
minhas palavras presas ficariam ao discurso,
e, este, circunscrito,
na mandala de meus atos.

Convite a vida


Vem, da-me tua mão,
Mergulhe em meu rio,
Minhas águas são cristalinas,
Meu leito é tranqüilo,
E, te levo direto pro mar.

Vou te mostrar tesouros perdidos,
Navios fantasmas,
Sereias pra te encantar.

Vem comigo, embalo teu sono e te faço sonhar,
Sonhar acordado com fadas e duendes.

Vamos brincar de colher flores,
Passear pelo bosque,
Deitar na relva verde e sorrir para o sol.

Vem que a vida não espera,
Vamos correr pelos jardins do mundo,
Passear entre as estátuas e a hera.
Vamos brincar de pique esconde,
Entre os canteiros de rosas, jasmins e primaveras.

Vem, me ache, me encontre de mim,
Estou aqui perdida e necessito teus passos.

Venha, vamos brincar com o vento,
Que a flor nos chama e avisa,
que a vida é o agora.

Despe-me,
Retira meus véus,
Que meus sentimentos são puros.
Abraça meu corpo que tenho frio,
Faz me carinho e me leva às estrelas,
Que eu gosto de lá.

Lá longe, vê, onde Calisto virou a Ursa Maior.

Não vamos ficar parados, que a vida é breve e o tempo corre.

Anda, não chores,
Pois não te deixarei só,
Brincaremos e seguiremos juntos,
E, quando chegar à noite e estiverdes cansado,
Chamarei os anjos pra te proteger.
Não temas,
Ficarei ao teu lado e velarei teu sono,
Por toda a madrugada até o amanhecer.

Anda, que o dia já acordou,
E este nos espera,
Há parques, jardins e,
A menina na janela.

O raio de sol nos apressa,
Vamos,
Pois, eu também tenho pressa.
Tenho pressa de vida,
Tenho pressa de ti,
Tenho pressa do teu corpo em meu corpo.

Quando teus lábios me bebem,
Não sou mais eu,
Sou você perdido em mim.

Anda, me busca, me devolva a mim,
Sem minha alma, soçobro aos ventos.

Tens sede? Bebe-me,
Sou como fonte no deserto,
Leve e lúdica.

Tens fome? Come-me,
Meus frutos são maduros,
E, te prometo,
Não serás expulso do paraíso.

Vem agora, e por alguns instantes,
Repousa tua sesta em mim,
Minhas sombras são frescas, e,
Minha brisa um convite a dormir.

Ei, passou-se o instante,
Acorda-te de teu sono,
Esqueci de contar-te um segredo,

A vida pode ser perene,
Mas, eu, sempre serei,

Teu eterno poema.

Desalmada

Se perguntarem por onde anda minha alma,
Não saberei dizer a resposta,
A dita cuja pediu alforria,
E num grito de liberdade,
Abandonou-me há 3 dias,
Não deixou recado,
Na porta da geladeira,
Nem mensagem no meu celular,

Viram-na em um baile,
Em Olinda,
Dançando frevo,
Disseram que estava completamente bêbada,
Nem parecia uma alma,

E, eu?
Aqui perdida,
Sem alma,
Desalmada,
Completamente só,
Sozinha.
Bem, vamos lá, acabo de criar o blog!!! E agora? Eu deveria ter feito um cursinho, no minimo, em respeito aos meus leitores (rsrs). So far, serei a única por aqui, até saber habitar essas paragens.