sexta-feira, abril 30, 2010

Convite a vida II


Vem, da-me tua mão,
Mergulhe em meu rio,
Minhas águas são cristalinas,
Meu leito é tranqüilo,
E, te levo direto pro mar.

Vou te mostrar tesouros perdidos,
Navios fantasmas,
Sereias pra te encantar.

Vem comigo, embalo teu sono e te faço sonhar,
Sonhar acordado com fadas e duendes.

Vamos brincar de colher flores,
Passear pelo bosque,
Deitar na relva verde e sorrir para o sol.

Vem que a vida não espera,
Vamos correr pelos jardins do mundo,
Passear entre as estátuas e a hera.
Vamos brincar de pique esconde,
Entre os canteiros de rosas, jasmins e primaveras.

Vem, me ache, me encontre de mim,
Estou aqui perdida e necessito teus passos.

Venha, vamos brincar com o vento,
Que a flor nos chama e avisa,
que a vida é o agora.

Despe-me,
Retira meus véus,
Que meus sentimentos são puros.
Abraça meu corpo que tenho frio,
Faz me carinho e me leva às estrelas,
Que eu gosto de lá.

Lá longe, vê, onde Calisto virou a Ursa Maior.

Não vamos ficar parados, que a vida é breve e o tempo corre.

Anda, não chores,
Pois não te deixarei só,
Brincaremos e seguiremos juntos,
E, quando chegar à noite e estiverdes cansado,
Chamarei os anjos pra te proteger.
Não temas,
Ficarei ao teu lado e velarei teu sono,
Por toda a madrugada até o amanhecer.

Anda, que o dia já acordou,
E este nos espera,
Há parques, jardins e,
A menina na janela.

O raio de sol nos apressa,
Vamos,
Pois, eu também tenho pressa.
Tenho pressa de vida,
Tenho pressa de ti,
Tenho pressa do teu corpo em meu corpo.

Quando teus lábios me bebem,
Não sou mais eu,
Sou você perdido em mim.

Anda, me busca, me devolva a mim,
Sem minha alma, soçobro aos ventos.

Tens sede? Bebe-me,
Sou como fonte no deserto,
Leve e lúdica.

Tens fome? Come-me,
Meus frutos são maduros,
E, te prometo,
Não serás expulso do paraíso.

Vem agora, e por alguns instantes,
Repousa tua sesta em mim,
Minhas sombras são frescas, e,
Minha brisa um convite a dormir.

Ei, passou-se o instante,
Acorda-te de teu sono,
Esqueci de contar-te um segredo,

A vida pode ser perene,
Mas, eu, sempre serei,

Teu eterno poema.



Escrevi esse poema no inicio do blog, estou reeditando-o, pois me sinto assim hoje! Após um período de lembranças e reluto, quero fazer um convite a vida!

Vamos vivê-la, apesar dos nossos vários eus, culpas e temores. Vida, que te quero viva, pulsante, intensa, ardente, cheia de cores e sabores!

quinta-feira, abril 29, 2010

Saudade

Sinto uma falta muda de ti,
meu inteiro é fracionado,
agora sou partes,
mosaico de mim,

fracionei-me quando partiu,
em meu papel personagem,
fingi-me inteira,
pra continuar,
pra caminhar,

mas, agora sou parte,
parte do ontem,
e, de um futuro jamais presente,
de uma história nunca contada,

agora, sou parte,

mas, totalmente inteira nas lembranças.

terça-feira, abril 27, 2010

Esquizofrenia

De tempos em tempos me deparo com os meus vários eus. Me dei conta, que não gosto muito deles. Como conviver com esses múltiplos de mim?

Talvez não tenha, e eu possa cometer um assassinato em série. Pra que me serve meu eu autoritário, o tirano, o controlador, o crítico exacerbado, o vaidoso?

Algumas vezes percebo que conspiram as minhas costas, e tentam me sabotar... E, eu, ingênua que sou caio na armadilha! Me pego frustrada, sorumbática, me critico, fico mal, quando na verdade, não sou eu, sou eu refém deles. Por isso, às vezes quando olho no espelho..., não sou eu..., é o outro de mim que me olha.

Deus, terei cura?

segunda-feira, abril 26, 2010

Dores passadas

Neste tempo sem hora,
O discurso não tem palavras,
A carcaça oca me espreita e acusa,
cobrando definições,

um coração confuso se aperta,
sou tragada pelo buraco solo metrô,

o inferno me espera,
não quente,
mas frio e escuro.

em um canto me escondo,
remexendo o baú,
em busca de lembranças, sonhos,

minhas mãos cheias,
carregam os cacos achados no caminho,

as mãos estão ocupadas,
o coração furado,

a cabeça...
cadê a cabeça que estava aqui?

o gato comeu.

Tempo

Presos…
em nós mesmos,

dos limites,
grades imaginárias,

a espera da sentença,
a ser julgada,

talvez o tempo absolva,
talvez o tempo condene,

que ironia,

o tempo,

o algoz,

a zombar de nós,
nos roubando o tempo,

presos, esperamos,
presos, ficamos,

nada fazemos,

e o tempo voa.

domingo, abril 25, 2010

Metrô

Rostos passam,
luzes se vão,
riscando o escuro de um túnel infinito,

só eu fico, ou talvez, só eu vá,
e todo resto fique,

mero ponto de referência,
nesse fim de noite,
que de nada me serve,
para compreender as agruras do dia,

rostos cansados, impacientes de mais um dia,
olhares distantes, em que pensam?

no fim da estação,
no fim do dia,
no fim da vida...

só eu penso em terminar esse poema.

Dor de existir

Algumas vezes,
surge repentina,
vai rasgando,
abrindo caminho e explode,
surge do nada,
ou, talvez,
eu não queira saber,

me perturba, e então eu me escondo,

cresce, toma espaço e me ganha,
se faz presente e zomba de mim,

maldita dor,
desconhecida,
corta e faz chorar,
provoca tristeza profunda,
angústia que aperta o peito...

são tantos caminhos que às vezes me perco,
e, meu Deus,
é tão difícil encontrar,

solidão que sufoca,
tristeza sem fim,

porta fechada de um quarto escuro,

e o choro que se ouve é o meu,
perdido, em anos de desencontros.
(12/96)

segunda-feira, abril 19, 2010

Partida

Meus silêncios não dizem nada,
Talvez uma acusação muda, velada
De uma manhã,
onde o sol brilhava na parede de bom dia,
as plantas no jardim só existiam,
e eu feliz ao teu canto,
sem saber o que nos aguardava,
de sua viagem repentina,
para outras paragens,
outras manhãs,

agora, só o sol brilha.

domingo, abril 18, 2010

Caminhar

quando me olha
não sou eu
o que você vê

sou o seu reflexo, no espelho
eu não existo.

quando me ouve
não são minhas palavras

a pessoa que acorda
banha-se e vai embora
não sou eu

a refém de todas as horas
tampouco

em meio às ruas, os carros
às arvores estou

sem rosto e sem forma

estou além, lá,
acolá, embaixo
em cima, dentro e fora

a sombra na pedra sou eu
a teia que teima
no orvalho a flor
a brisa que leva o barco
a neblina que encobre a serra

sou o detalhe
a erva que nasce no jardim esquecido
a tarde que cai

busquei na memória encontros
no entanto
são meus passos que ouço no caminho

o atravessar da ponte é lento
como essas águas
olhadas da margem do rio.

não me espere pro jantar...

domingo, abril 04, 2010

Medo

Fiz uma enquete aqui no blog e perguntei sobre os medos nossos, não os de cada dia, mas, os da existência, aqueles que nos atormentam a alma. Do que você tem medo? Do que você tem mais medo? Da morte, da solidão ou da infelicidade? Uma minoria disse medo da morte e a outra parte se dividiu entre a solidão e a infelicidade. Assim, a morte perde de longe. Interessante, poderíamos dizer que o maior medo de todos seria a morte, a certeza da finitude, e por ser algo que nos escapa e não termos controle algum, temeríamos.

O que foge a nossa compreensão, tememos. O que foge a nossa construção, tememos. Temos medo de falhar, como também do sucesso, temos medo da solidão, mas também de relacionamentos, temos meda da morte, mas também do viver. O medo da morte paralisa para a vida. Mas o medo da vida, o não fazer, eterniza a morte a cada instante.

A enquete mostrou que os maiores medos são solidão e infelicidade. Mas, qual o medo da solidão? De que solidão estamos falando? Da condição de quem vive só ou da solidão da alma?
E, infelicidade? Condição de nunca estar alegre, contente, feliz? É possível? Podemos e temos todo o direito de nos permitir ficar tristes, mas para que insistirmos em uma condição que não nos é favorável? Se pensarmos um pouco, veremos que temos medo das condições que criamos. Solidão é uma condição que não é alheia ao nosso desejo. Somos responsáveis por tudo que nos acontece, sendo assim, tememos nossos próprios desejos, ou o pior, nossa incapacidade de mudar uma condição criada por nós.

sábado, abril 03, 2010

A morte é estúpida

Não entendo a morte, desculpem-me todos. A morte é para nos mostrar a finitude da vida? Aprender a dar valor às pessoas? Resolver o problema de densidade humana?

Morreu Marcio, morreu Salomão e o menino azul, e eu..., que morro um pouco, a cada morte que se abate sobre mim.

sexta-feira, abril 02, 2010

Epitáfio

O sol se põe na flor,
a tarde se põe no jardim,
e o dia, se põe em mim...

O Thomaz, meu filho aos 6 anos fez um desenho e escreveu " o sol se põe na flor". Terminei o poema com as outras duas frases, e quando li, ele me olhou sério e disse - mamãe é isso que vou colocar na sua lápide quando você morrer. Chorei horrores, um amigo tentou me consolar. Pra quê? eu já sabia o que estaria escrito na minha lápide.

quinta-feira, abril 01, 2010

Eu sou

Há momentos que sinto o amor tão forte, mas tão forte, que amo tudo, as árvores, o poste, a brisa, a pedra. Me enlevo com a simples sombra, com o tremular da folha, com o inseto que voa. Busco os detalhes a minha volta e suspiro. Nesses momentos uma felicidade imensa me invade, felicidade de vida, de comunhão. Fico leve que nem nuvem, tão leve que suspiro fundo o céu. Clarice disse que nesses momentos sentia um sentimento maternal por Deus, mas este nunca senti. Tenho sim, um sentimento maternal pela vida, me sinto meio mãe da terra, do planeta, com todas as obrigações de mãe, acalentar, alimentar, proteger. Sou tão mãe que me acalmo, a paz da serenidade materna. Nesse momento tão único, completo e breve, eu vejo, percebo, perdôo, pertenço e entendo. Nesse momento “Eu Sou”.