domingo, novembro 29, 2009

Anoitece

tardes melancólicas,
mesmo o vento é silencioso.

a sombra nas folhagens traduz uma tristeza,
perpassa o vazio entre os galhos
e se mistura aos últimos raios de sol.

momento etéreo,
entre a sombra fria,
e o sol, que ainda ilumina.

o céu de um azul profundo,
se mostra límpido,
e só,

o olhar através da janela mostra
o fim do dia...

os carros passando,
lembrando lhe de sua solidão,
sua condição de ser perdido,

de suas tardes da vida,
quando a noite cai,
e você fica só.

sábado, novembro 28, 2009

Desassossego da alma

Minha alma inquieta busca,
Caminhos outros,
Outra cor para o céu,
Outra cor para o mar,
Para vida busca definição,
Para o tempo,
Outra forma de dizer não,

Minha alma inquieta busca,
Respostas nunca ditas,
Conceitos jamais criados,
A face de Deus,
O endereço do céu,

Minha alma inquieta,
É criança, lúdica,
Busca um amor impossível,
De desejos insólitos,

Minha alma inquieta,
É sem descanso,
fala, ama, grita
atropela momentos,

Tem urgência de vida,
Felicidade e desejos,
E no caminho vai...,
Levando flores,
Provocando amores,
Causando espantos.

Vai alma, vai,
Mas, não se esqueça,
No caminho, de se hidratar.

sábado, novembro 21, 2009

Relações virtuais e a nossa busca no outro

Esse mundo virtual é um prato perfeito para vivermos todos os personagens possíveis e imagináveis, aqui somos belos, altos, magros, íntegros etc. Escolhemos a melhor vida, a mais atraente, acrescentamos qualidades, diminuímos defeitos e..., estamos prontos! Produto acabado muito melhor que o fabricado por Deus.

Talvez, seja a promessa de sermos melhores, de termos vida mais interessante, de fazermos coisas diferentes, é a promessa de se recriar. Não é incrível, quanta porta, sonhos, economia de anos de análise essa telinha proporciona.

Realmente, que paradoxo, criamos nosso real perfeito no virtual. O único problema é que em algum momento teremos que transferir a perfeição para o real. Até lá prevalece a opção de ser você/real ou estender um pouco mais a novela criada.

Aqui podemos ser lindos e maravilhosos, não importa se não correspondemos aos ideais de beleza, porque estamos no plano virtual. Que se dane meus três olhos ou minhas verrugas ou qualquer outra coisa. A ausência de barreiras também facilita, pois cria um processo de intimidade gritante, em questão de horas se fica extremamente intimo de um inteiro desconhecido, e como, em um ato de confissão nos revelamos inteiramente, sem pudor.

Nosso interesse é limitado ao nosso discurso. A única coisa que importa aqui são as palavras, nos construimos com as palavras, sou o que escrevo e como me expresso. Não importa, se não me encaixo em padrões sociais, de qualquer ordem. Aqui, um deslize meu ou seu e o encanto (curiosidade ou/e interesse pelo mistério) desaparece. A possibilidade de desvendar ou construir o outro pelas palavras se apresenta como uma oportunidade altamente tentadora. O outro vai se descortinando aos poucos, fica na construção do idealizado. O outro é o que idealizo, na possibilidade do vir a ser.

O que nos move? Na verdade, o que nos move é a nossa eterna busca por nós mesmos. A busca pelo outro se revela efetivamente interessante, a partir do momento que o que nos fascina no outro é a nossa semelhança, a possibilidade do nosso reencontro. Que louco não, nos interessarmos por nós mesmos, enquanto no outro. Por que será que precisamos de referências externas, por que precisamos de espelhos? É meio narcisita não? Gostar do outro quando o outro se revela tão próximo de minha imagem.

O problema é a transferência para o real, as pessoas criam um mundo perfeito no virtual, relações perfeitas e tentam reproduzi-los no real. É complicado, mas como somos otimistas irrecuperáveis, acreditamos, bem lá no fundinho, que conseguiremos de alguma forma, criar o mundo perfeito, encontrar o amigo perfeito, um amante perfeito ou no melhor dos mundos nossa alma gêmea. Agora, isso já é assunto para outro post.

quarta-feira, novembro 11, 2009

Paixão

Suspensa de tudo,
Suspensa de mim,

A alma num exercício de liberdade,
Pede permissão para se ausentar do corpo,

O corpo num exercício de vida,
Pára,
E, lembra-se de respirar,
Por um breve segundo,
Breve segundo,
Havia esquecido de buscar o ar,
Busca lá dentro, bem fundo,
Não no peito, mas na alma,

Esta, liberta que estava
Saiu para passear,
Saiu para ver as flores,
o céu azul...
o cheiro de jasmim...
Relembrar teus olhos,

Pobre alma, perdida que estava
Esqueceu de voltar.

Amor inventado

Quisera ser amor,
como amor pudera,
haver pretendido,

Minh´alma chora,
ausência nunca existida,
posto lugar, espaço,
nunca se quer ocorrido,

A arvore chora em folhas secas,
que leva o vento o inverno perdido,

Teus olhos me encontram,
e dizem um tudo,
em mudas palavras,

Tuas mãos me buscam,
no acaso,
de gestos cegos,

Sinto uma falta calada,
de diálogos jamais conversados,
de um tempo nunca vivido.

terça-feira, outubro 20, 2009

Esquecidos de Deus

Não, deus não é um homem claro,
apesar de ser falho,

o instante da morte, desconhece

há muito que deus nos esqueceu,
pobres anjos caídos,
relegados aos seus próprios fados,
amorfos, robóticos, autômatos, sem vida,
personagens sem graça de uma estória sem script,
perdemos a bossa,

a deus não interessa,
o dia de nossa sorte,
a dor de nossa angústia,
nem nosso instante de morte,

somos reféns de nossos próprios atos,
obreiros de nossa história,
somente a nós cabe,
o momento de nossa morte.

domingo, outubro 18, 2009

Nós seres comedores

Quem me conhece acompanha minha luta, batalha interna em me tornar um ser mais evoluído, integrado à natureza, e, por conseguinte, vegetariano. Há uns 9 anos que vivo entre estar vegetariano e onívoro. Um amigo disse que eu não era vegetariana e sim estava. Ele estava certo, nesses nove anos nunca fui totalmente vegetariana.

Tudo começou na gravidez, fui fazer yoga e tive oportunidade de conviver com seres mais evoluídos, que se preocupam com o planeta, energias e seres vivos não comestíveis. Sou uma pessoa altamente influenciável, ainda bem, na adolescência minha mãe vivia me dizendo para olhar as companhias, e eu morria de medo das más companhias que comiam criancinhas. Assim, passei incólume pela adolescência sem comer criancinha alguma.

Pois bem, nesse grupo comecei a ter preocupações com alimentação, arroz cateto, feijão azuki, algas, pastas de soja, pão sem glúten, clorofila, e por aí vai. Sou extremista do tipo radical, quando mergulho, mergulho fundo, não dou vôos rasantes. E assim, fiquei mais radical dos mais radicais, parecia que tinha nascido vegetariana. Tudo piorou quando influenciada por um amigo, comecei a querer me alimentar com comida crua, esse então comia pão assado no calor do sol. E, o interessante é que uma viagem leva a outra viagem e a outra, sempre com companheiros de viagem mais interessantes, que contribuem para encher nossa maleta de viagem cada vez mais com esquisitices. Dessas minhas viagens comecei a beber água com argila que é excelente, carvão vegetal em pó, clorofila, suco verde, suco vivo, babosa, erva de passarinho etc.

Recentemente, não tão recentemente, desde que me separei, há uns 4 anos venho tentando manter a alimentação mais saudável e não comer seres vivos com mobilidade.(Segundo um amigo, ele é carnívoro porque é contra comer seres imóveis, os vegetais nada podem fazer para fugir a nossa caçada). Mas, digo que é difícil, fico sempre na linha tênue em ser mais evoluída e me levar pelos anseios primitivos da carne. Assim, venho alternando períodos evoluídos com períodos de barbárie (desculpem-me, seres comedores de carne), mas é assim que me sinto.

Toda vez que acho que estou caindo em tentação entro naqueles sites vegetarianos que mostram porquinhos, vaquinhas, pintinhos com as estórias mais tristes de meus amiguinhos e eu choro horrores (meus filhos já até sabem e perguntam - mãe vc esta vendo a vitela de novo?). Depois, saio renovada e fico ainda mais determinada a não me deixar levar pelos meus instintos de predadora. Visitar esses sites aplaca minha fome de carne, mas da última vez não adiantou muito.

A primeira vez que sucumbi, eu já estava há um bom tempo sem comer carne e vivia sonhando com bacon, presuntos e costelas. Verdade, tinha um sonho que era recorrente, uma festa romana com bailarinas em roupas esvoaçantes dançando com pernis assados em bandejas. Não me pergunte o porquê das bailarinas, nem eu nem a analista decodificamos o sonho. Nessa época eu tive uma gastroenterite braba, quase morri (sou exagerada) fiquei três dias comendo papa de arroz sem tempero e óleo algum. No terceiro dia, tonta de fome fui ao supermercado comprar alimentos, e sem me dar conta me peguei parada em frente à seção de frios, fiquei namorando todos aqueles pastramis, presuntos, parmas e mortadelas. Não agüentei muito tempo, comprei meio quilo de alguma coisa vermelha, cheirosa e saborosa, não esperei nem chegar em casa, comi uns 3 sanduíches no estacionamento. No dia seguinte comi feijoada e no terceiro dia, um joelho de porco em um maravilhoso restaurante alemão. E o pior, é que não senti nada, nenhum mal estar, absolutamente, nada, nada que pudesse dar forma ou cor a uma possível culpa de comer meus irmãozinhos.

Os amigos deliram de felicidade quando você cai em tentação, é como se você tivesse uma doença grave, e, de repente, estivesse livre da morte. Não entendo.

A carne de vaca eu não como ate hoje, mas, de carne branca passei a comer carne bege, mais recentemente rosa e laranja. Já me percebi relativizando e reclassificando, o camarão é quase um vegetal, poderia ser uma planta, a lagosta também não conta, o peixe é peixe e Jesus distribuía, assim, não tem problema.

Da última vez, voltar a comer carne foi uma decisão do universo e não minha. Eu estava novamente sonhando com carne, me sentindo comendo picanha, mas, resistia bravamente, até um sábado que passei novamente por um jejum forçado. Cheguei em casa querendo enfiar o pé na jaca, liguei para uma amiga que estava passando mal, fiquei com preguiça de sair e acabei pedindo uma pizza. Consegui resisti à tentação de pedir uma pizza de peperoni e pedi uma de escarola, bem vegetariana!

Trinta minutas depois eu abro a caixa e meus olhos se arregalam, na caixa havia as mais lindas rodelas de lingüiça calabresa! Nem pensei em ligar e reclamar, pacientemente retirei cada rodela, uma a uma. Até que percebi meu dedos sujos e fui lamber as pontas, senti o sabor da lingüiça, lambi mais uma vez. Por fim, decidi lamber as próprias rodelas! Lambi umas quatro, na quinta decidi que poderia mastigar. Arrependida e com culpa cuspi a carne, mas engoli o sumo.... Olhei bem, olhei de novo e em um gesto repentino e impulsivo peguei todas as rodelas e joguei de volta na pizza. Enrolei bem e comi tudo, a pizza inteira, gigantesca, sozinha recheada de calabresa! (acho que nunca mais vou ter coragem de olhar um porco nos olhos novamente)

Como o meu amigo havia dito, não existem coincidências e temos que entender as mensagens do universo. Como ser inteligente (tudo bem, não entendi a geladeira), mas essa mensagem aqui era clara. A carne tinha chegado como um sinal do céu, como um presente para mim, e presentes a gente não questiona, ainda mais presente do universo. Assim, estou mais uma vez às voltas com meu lado bárbaro e comedor de seres (não por muito tempo, já que minha consciência e culpa não permitem), mas, até lá vocês, caros amigos, poderão ter o prazer de me convidar para um churrasco.



Beijos dominicais com sabor de picanha!!!

P.S - A tirinha é do sapobrothers

domingo, outubro 11, 2009

Maldição de Graham Bell

Acredito realmente que tudo é energia e estamos conectados. Neste caso aqui, eu e os eletrônicos. Outro dia, um amigo recente disse que precisamos perceber as mensagens do universo, já que as coincidências não existem.

Pois bem, preciso de ajuda. Primeiro, descobri que tenho a maldição de Graham Bell, é isso mesmo, fui amaldiçoada por Graham Bell. Estou fadada por quanto existir a ter problemas eternos com os telefones, e não somente os celulares os fixos também. Até aí nada, você pode dizer que não é surpresa dado o nosso serviço de telefonia. Esse ano, em curto espaço de tempo, troquei de telefone 4 vezes, pra desespero da área de TI.

O primeiro pregava peças, você discava para alguém, o telefone completava a ligação e quem atendia era outra pessoa. Ele tinha vontade própria, ligava sozinho como também desligava na cara da pessoa. De uma grosseria impar. Não ligava para ninguém que começasse com as 6 primeiras letras do alfabeto, nem para alguns números. Assim, minhas ligações ficavam limitadas a alguns números cabalísticos ou o que me restava do alfabeto. As pessoas reclamavam “você não liga mais pra mim”. Mas, como explicar que a culpa era do telefone. Mensagens na secretária, estas nunca chegavam e se chegavam, chegavam depois da reclamação de que eu não havia retornado. Desisti, e fiquei com a pecha de que sou um horror com o telefone, não atendo, não retorno etc...

O segundo, um palm magnifico, falava como todo bom telefone, além das mil e uma utilidades que eu nunca cheguei a descobrir. Também cozinhava, pregava botões e de tanto cair no chão desistiu de ser telefone. Só queria saber de tirar fotos, até atendia uma ligação de vez em quando, mas a coisa dele mesmo era fotografia.

O último durou um mês, e num ato total de rebeldia mantém em sua tela de cristal liquida uma imagem abstrata linda, digna de museu de arte moderna. Assim, não sei quem esta me ligando nem sei se estou ligando para o numero correto, mensagens nem pensar, só vejo um envelope azul piscando.

O fixo durante 3 meses fazia conference call com a vizinhança, primeiro com o pessoal do prédio depois se aventurou pras redondezas e foi para bairros distantes. O bom é que as pessoas são simpáticas, compreendem, desligam, te ajudam, teve um que até fez a ligação pra mim, já que eu não conseguia.
Mas, os meus problemas com telefone incluem também perda, assaltos, mergulho no vaso sanitário, refrigerantes e coisas mais. Por isso, a cisma da maldição...

Esse meu amigo que entende de coincidência disse que eu preciso compreender as mensagens. Eu ainda não entendi, e o pior, é que as mensagens continuam chegando. O rádio do meu carro também não quer ser um rádio, só mostra as horas. Há também a máquina fotográfica, o depilador e sei lá mais o quê.

E, agora a geladeira está tentando fazer contato comigo. Eu sei, eu sei pela insistência! Mas, meu Deus, eu não falo língua de geladeira e a assistência não funciona finais de semana e feriados.
Ela apita ininterruptamente (agora está silencio, de vez em quando ela cansa e pára, dá até pena), e acende umas luzinhas. Obviamente como mulher antenada e esclarecida busquei manual, site, fóruns e nada. Há todo um padrão de apitos, eles tocam em uma freqüência crescente, aceleram, diminuem e depois param. Cansada, sem compreender desliguei a pobre da tomada, acabei esquecendo e hoje de manhã quando fui abri-la, fui correndo ligá-la. Tentou novamente em seus esforços refazer os contatos, mas acho que desistiu já que há um bom tempo não mais apita.

Outro amigo disse que o que eu precisava mesmo era de um marido. Não sei... Será que os maridos captam as coincidências e as traduzem? Assim, sem marido, estou eu aqui a me perguntar que coincidências são essas, que mensagens são essas que me chegam e não percebo. Por favor, aceito conselhos, sugestões e o telefone da assistência técnica (rsrsr)

quinta-feira, outubro 08, 2009

Janela

Linhas tortas
que não traçam caminhos
geometria imprecisa
desse momento hora
que nunca termina
na bifurcação das ruas
os carros buzinam
um cheiro de camarão no ar
o céu se insunua entre as nuvens
da janela observo
o ir e vir das pessoas
a mudança das cores do sinal
da minha cadeira
através da janela
eu sinto a vida.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Humana

Somos Humanos,
demasiadamente humanos,

entre a linha tênue do ser e não ser,
habitam as feras, as bestas,

na porta fechada da noite de cada um,
os desumanos atos desnudam sentimentos,
cortam a carne e deixam exposta a ferida,

corro a frente do espelho e avalio,
olhos, cabelos, boca,
tudo em seu lugar,
a metaformose mulher besta não ocorreu,

enfim, continuo humana,
demasiadamente humana,
e, totalmente desumana, em meus atos de desafeto.

Deusa

hoje acordei me sentindo deusa,
posta imortal no olimpo,

não temo a finitude da vida,
o peso da decisão,
premido entre segundos,
nem busco o infinito do agora,
preso no lapso nano momento,

como deusa,
me desfaço dos tolos,
pequenos medos humanos,
sou infinita,
infinito ser, éter...

minha estranha aparente calma,
rendeu me alta da analista,
desconhece ela,
que brinco de ser deus

e, sendo deus,
eu controlo o universo.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Digressão de uma vida não plana

Somos agora multi, multi indivíduos, acompanhando a lógica do multi universo. Descobriu-se, apesar das não provas, que o universo não é mais uni, agora, é multi, assim é multiverso. E, nós seres, até então unos e individuais em nossos universos, somos agora multíviduos. Continuamos sendo uno, mas, multi nos vários papéis que desempenhamos. Será aqui também a soma das partes maior que o todo? A soma do nós em mim (meus vários eus)é maior do que o meu eu, único individuo? Equação interessante... Basta matematizar a construção do eu e minha atuação dentro deste universo múltiplo e encontro minha fórmula. Múltiplos eus em múltiplos universos.

Afinal, quem somos? Podemos nos desfazer das várias camadas assumidas, como papéis personagens de mundos distintos? Dentro do nosso eu habita um sistema complexo de vários papéis interações com seus outros papéis (interações) de seu outro eu. A cada interação há uma construção nova, nova variável que não pode ser desassociada de você. Você é o pai, o filho, o marido, o profissional, o cliente, o fornecedor, o amante e o poeta, com papéis distintos dentro dos vários universos. Interações coexistem simultâneas nos vários papéis.

Teoria dos conjuntos, conceitos primitivos, alguns são eventos excludentes ou, talvez, não. Como coabitar dentro de mim tantos eventos, e alguns excludentes? Explicam-se, aí, as culpas das noites de cada um. Posso efetivamente me despir de minhas várias camadas e me apresentar desnudada de mim?

Há um conjunto vazio?
O meu conjunto vazio não se apresenta vazio.
A minha essência desnuda, talvez, minguada, tal qual um individuo de Biafra não é vazia, é conjunto universo.

domingo, setembro 20, 2009

Ausência do verbo

Neste instante me vejo muda, calada, ausente de palavras e símbolos, perdida de significados. Qualquer instrumento afinado para tocar, descrever o momento. Notas surdas silenciam. Contemplação. Céu escuro pontilhado de estrelas. Infinitude. O ser desperto alça vôo e contempla sua própria eternidade. Mergulha no azul da prússia do universo, viaja a mais longínqua galáxia e traz poeira de estrela no bolso da alma. Quem somos e o que fazemos das nossas culpas, dos remorsos e todos quereres, tudo, tudo se perde neste abraço perfeito, na dobra do corpo que recebe o beijo. O caminho de volta para sempre perdido nas encruzilhadas das curvas, nos declives dos montes e bifurcações.

Cavalgada no prado, capim gordura que ondula, cheiro de mato, rocio cedo que umedece a face. O cavalo veloz imprime velocidade e voa no vento. Na corrida urgente carrega cabelos, boca, a mão que afaga a face. Beijos alados, doces, suaves, do sabor da flor, do amor, da paixão que vicia. No céu azul teu olhar na lua branca luzidia.

Quando a noite se esconde e as estrelas repentinam se apagam, os corpos no caminho se perdem. Na perdição dos sentidos, a respiração trôpega se corta e entrecorta, suspensa lança os corpos em fuga, cúmplices das sombras mudas. Fogem alados os dois aliados, voam alto bem alto, puros e inocentes voltam ao paraíso, de onde foram há muito deportados, e agora retornam, à casa, finalmente, perdoados. Parceiros da louca aventura em caminho acidentado. A nau sem porto que resgata o branco da espuma da onda que finda na praia. Viagem louca, caravana sem pouso, itinerante, de países perdidos e mares distantes. Seres encantados de contos de fadas, habitantes de cavernas e grutas escuras, despertos da hora convidam a celebrar.

Não quero voltar, me deixe lá, me abandone ao relento, perdida nas pedras, na areia, abraçada ao tronco da árvore, carvalho em flor. Quero ficar esquecida, esquecida de mim, da vida, perdida neste espaço de tempo nano eterno da minha pequena morte. Ah me deixe morrer, a morte é doce e nela me encontro.

Abro os olhos e nos vejo, abraçados, a representação do mais belo, estética divina, pintura, musica e toda poesia. Afinal, compreendo e sorrio tranqüila, agora sei, para este momento o verbo ainda não foi inventado.

Memórias e ossos

hoje acordei lúgubre,
saudosa de todos os momentos,
para sempre perdidos,
nunca possíveis, passiveis
de serem recuperados

perderam-se,
tal qual poeira ao vento,

assim como seu beijo,
a brincadeira na sala de estar,
sua risada gostosa,

ficaram os passos.
passos que ecoam na memória,

e, meu corpo carrega,
como meu saco de ossos.

sábado, setembro 19, 2009

Corvos e Girassóis

Quando escrevi o poema abaixo, eu havia recebido um conto de uma amigo que falava de corvos. Quando estive em Viena fiquei apaixonada pelos corvos nos parques, pelas árvores secas sem folhas, pelo inverno... O email desse amigo tinha o título de Corvos e Girassóis, por conta de um quadro meu chamado girassóis e, obviamente, por conta de seu conto.  Imediatamente me remeteu a Van Gogh, e me deu uma vontade louca de escrever. Fui contaminada pela compulsão de Van Gogh, e desde então tenho escrito bastante. Escrito sentimentos, emoções soltas, palavras borradas no papel e, agora, na telinha. Espero que gostem, se sensibilizem, e parem, nem que seja por um segundo, para sentir. Sentir o ar, a flor, o céu azul, a vida...

Céu azul,
Transcendência do ser,
Limites, emoções, razão

à ausência de culpas e crenças
o ser mais leve flutua,
“Insustentável leveza do ser”
Os girassóis à volta
Bailam o momento,
Tempo de vida.

Um mundo de corvos
fugidos de outro quadro talvez,
pintam o céu,
revoam sobre as flores,
grasnam a solidão,
o frio do inverno,
o frio da vida...

Sentimentos que mesclam,
Lucidez e loucura
Vida e morte
Amor e dor



sexta-feira, setembro 18, 2009

....Estrela, sede, viagem, encontro...


A estrela que brilha na borda da taça de cristal
É rubra,
Tremula na transparência a luz
Lançando cor no branco da toalha de linho,
E deixa um rastro tinto,
De vida e paixão,

Não tenho sede de um copo de vinho,
Tenho sede de ti,
beber-te inteiro,
Sorver gota a gota,
Feito vinho mais precioso,
Quero beber todos teus líquidos,
pensamentos, emoções e gestos,
beber teu cheiro e tua risada,
A ruga do canto dos olhos,
Tuas lágrimas,
Para jamais vê-lo chorar,

Quero beber-te,
Beber, beber e me embriagar,
E bêbada, sair numa viagem louca,
Passear nas palavras da página de um livro,
Em meio às flores de um campo de girassol,
No revoar com os corvos, no parque,
Nesta viagem, sou eu e sou todas,

A sombra da pedra da manha orvalhada,

E, como bêbado perdido na mais pura noite,
Vou beber-te continuamente,
E no traçado torto dos meus passos,
A cada gota me aqueço,
A cada gota me perco,
E, no entanto, me acho,
Sempre um pouco mais.

terça-feira, setembro 15, 2009

Ausência

sua cabeça no meu travesseiro,
a minha volta, suas memórias,
meu pobre corpo,
sua ausência não entende,
assim, persisto,
uma insistência ilógica,
onde fantasio, e
sempre te recrio,
e neste exercício louco,
entre vida e memória,
me confundo e me perco.
Tento como dever diário,
fazer de minha rotina,
um ritual de desapego,
no entanto,
sei que te carrego,
por toda a eternidade

Guardiã

algumas vezes não me recordo da cor do seus olhos,
mas as lembranças me levam…
como folha ao vento,
trazendo imagens de ontem,
impressas num filme antigo,
em branco e preto,

lembro-me de dedos cegos,
que trilhavam caminhos,
de uma boca sôfrega,
que sugava-me os seios,
de quadris arquejantes...

e eu, a te observar dormindo,
velando teu sono,
na tarde triste,

transcorriam segundos, minutos, séculos,
do meu posto de guardiã,
eu eternizava o momento.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Falta de sincronia

As palavras não acompanham os discursos,
fogem apavoradas rejeitando definições,
O discurso tão pouco, segue os atos,
Ou, talvez, os atos abandonaram o discurso ao longo da via.
Andam a esmo, sem bussola ou mesmo um GPS.
Discurso sem palavras.

Atos ausentes de discursos.
Atos, palavras, discursos.
Atos, discursos, palavras.
Discursos, atos, palavras.
Discursos, palavras, atos.
Equação que não se fecha.

Meus discursos são vazios de palavras,
palavras vazias de atos
que seguem por vias distintas.
Por que não dizer trilhas?

Precisa-se de domadores.
Domadores de palavras.
Palavras que obedeçam discursos,
e referenciam-se em atos.
Pede-se o uso da não violência.
Palavras são frágeis e sensíveis,
e apavoradas podem se perder.

Pede-se também rastreador de atos,
que saiba seguir trilhas passadas, presentes e quiçá até futuro,
Que saiba interpretar pegadas e rastros,
Deixados na poeira do acaso.

Para finalizar, uma boa costureira,
dessas bem prendadas,
que é para fazer um bonito patchwork.
Que seja atenta aos detalhes,
que tenha harmonia e equilíbrio na composição,
Tenho certeza, que com linha e agulha,
minhas palavras presas ficariam ao discurso,
e, este, circunscrito,
na mandala de meus atos.

Convite a vida


Vem, da-me tua mão,
Mergulhe em meu rio,
Minhas águas são cristalinas,
Meu leito é tranqüilo,
E, te levo direto pro mar.

Vou te mostrar tesouros perdidos,
Navios fantasmas,
Sereias pra te encantar.

Vem comigo, embalo teu sono e te faço sonhar,
Sonhar acordado com fadas e duendes.

Vamos brincar de colher flores,
Passear pelo bosque,
Deitar na relva verde e sorrir para o sol.

Vem que a vida não espera,
Vamos correr pelos jardins do mundo,
Passear entre as estátuas e a hera.
Vamos brincar de pique esconde,
Entre os canteiros de rosas, jasmins e primaveras.

Vem, me ache, me encontre de mim,
Estou aqui perdida e necessito teus passos.

Venha, vamos brincar com o vento,
Que a flor nos chama e avisa,
que a vida é o agora.

Despe-me,
Retira meus véus,
Que meus sentimentos são puros.
Abraça meu corpo que tenho frio,
Faz me carinho e me leva às estrelas,
Que eu gosto de lá.

Lá longe, vê, onde Calisto virou a Ursa Maior.

Não vamos ficar parados, que a vida é breve e o tempo corre.

Anda, não chores,
Pois não te deixarei só,
Brincaremos e seguiremos juntos,
E, quando chegar à noite e estiverdes cansado,
Chamarei os anjos pra te proteger.
Não temas,
Ficarei ao teu lado e velarei teu sono,
Por toda a madrugada até o amanhecer.

Anda, que o dia já acordou,
E este nos espera,
Há parques, jardins e,
A menina na janela.

O raio de sol nos apressa,
Vamos,
Pois, eu também tenho pressa.
Tenho pressa de vida,
Tenho pressa de ti,
Tenho pressa do teu corpo em meu corpo.

Quando teus lábios me bebem,
Não sou mais eu,
Sou você perdido em mim.

Anda, me busca, me devolva a mim,
Sem minha alma, soçobro aos ventos.

Tens sede? Bebe-me,
Sou como fonte no deserto,
Leve e lúdica.

Tens fome? Come-me,
Meus frutos são maduros,
E, te prometo,
Não serás expulso do paraíso.

Vem agora, e por alguns instantes,
Repousa tua sesta em mim,
Minhas sombras são frescas, e,
Minha brisa um convite a dormir.

Ei, passou-se o instante,
Acorda-te de teu sono,
Esqueci de contar-te um segredo,

A vida pode ser perene,
Mas, eu, sempre serei,

Teu eterno poema.

Desalmada

Se perguntarem por onde anda minha alma,
Não saberei dizer a resposta,
A dita cuja pediu alforria,
E num grito de liberdade,
Abandonou-me há 3 dias,
Não deixou recado,
Na porta da geladeira,
Nem mensagem no meu celular,

Viram-na em um baile,
Em Olinda,
Dançando frevo,
Disseram que estava completamente bêbada,
Nem parecia uma alma,

E, eu?
Aqui perdida,
Sem alma,
Desalmada,
Completamente só,
Sozinha.
Bem, vamos lá, acabo de criar o blog!!! E agora? Eu deveria ter feito um cursinho, no minimo, em respeito aos meus leitores (rsrs). So far, serei a única por aqui, até saber habitar essas paragens.