sábado, novembro 21, 2009

Relações virtuais e a nossa busca no outro

Esse mundo virtual é um prato perfeito para vivermos todos os personagens possíveis e imagináveis, aqui somos belos, altos, magros, íntegros etc. Escolhemos a melhor vida, a mais atraente, acrescentamos qualidades, diminuímos defeitos e..., estamos prontos! Produto acabado muito melhor que o fabricado por Deus.

Talvez, seja a promessa de sermos melhores, de termos vida mais interessante, de fazermos coisas diferentes, é a promessa de se recriar. Não é incrível, quanta porta, sonhos, economia de anos de análise essa telinha proporciona.

Realmente, que paradoxo, criamos nosso real perfeito no virtual. O único problema é que em algum momento teremos que transferir a perfeição para o real. Até lá prevalece a opção de ser você/real ou estender um pouco mais a novela criada.

Aqui podemos ser lindos e maravilhosos, não importa se não correspondemos aos ideais de beleza, porque estamos no plano virtual. Que se dane meus três olhos ou minhas verrugas ou qualquer outra coisa. A ausência de barreiras também facilita, pois cria um processo de intimidade gritante, em questão de horas se fica extremamente intimo de um inteiro desconhecido, e como, em um ato de confissão nos revelamos inteiramente, sem pudor.

Nosso interesse é limitado ao nosso discurso. A única coisa que importa aqui são as palavras, nos construimos com as palavras, sou o que escrevo e como me expresso. Não importa, se não me encaixo em padrões sociais, de qualquer ordem. Aqui, um deslize meu ou seu e o encanto (curiosidade ou/e interesse pelo mistério) desaparece. A possibilidade de desvendar ou construir o outro pelas palavras se apresenta como uma oportunidade altamente tentadora. O outro vai se descortinando aos poucos, fica na construção do idealizado. O outro é o que idealizo, na possibilidade do vir a ser.

O que nos move? Na verdade, o que nos move é a nossa eterna busca por nós mesmos. A busca pelo outro se revela efetivamente interessante, a partir do momento que o que nos fascina no outro é a nossa semelhança, a possibilidade do nosso reencontro. Que louco não, nos interessarmos por nós mesmos, enquanto no outro. Por que será que precisamos de referências externas, por que precisamos de espelhos? É meio narcisita não? Gostar do outro quando o outro se revela tão próximo de minha imagem.

O problema é a transferência para o real, as pessoas criam um mundo perfeito no virtual, relações perfeitas e tentam reproduzi-los no real. É complicado, mas como somos otimistas irrecuperáveis, acreditamos, bem lá no fundinho, que conseguiremos de alguma forma, criar o mundo perfeito, encontrar o amigo perfeito, um amante perfeito ou no melhor dos mundos nossa alma gêmea. Agora, isso já é assunto para outro post.

3 comentários:

Unknown disse...

O fato é que as pessoas muitas das vezes não se aceitam e optam em viver o que consideram a forma de "ser ideal" e aí se camuflam.

Unknown disse...

Lacan dizia que o desejo é o desejo do outro. Buscamos a confirmação do que suspeitamos, em nós: que somos desejáveis, amáveis, interessantes, gostosos, inesquecíveis, especiais. Quantos anseios, expectativas, esperanças remetidas para um endereço bastante familiar, onde as correspondências chegam e são enviadas, em moto contínuo, pois destinatário e remetente confundem-se, simbioticamente.
Ocorre que a necessidade do outro existe, é preciso exercer o contraditório das intenções rascunhadas, emaranhar solidões, simbólicas e reais, desfraldar medos geneticamente construídos, ancestrais gritos que ecoam pelos labirintos das nossas possibilidades (algumas, negadas, outras, renitentemente lançadas ao oceano do devir).
A vida é um "sendo", é neste gerúndio que lançamos a pedra fundamental de um novo olhar - sobre o mundo, sobre nós mesmos, sobretudo, sobre tudo, sobre o nada.
Virtuais relações e o outro que se busca, em nós (que tentamos desatar).
De repente, não mais que de repente (como disse o poeta), eis que surge na linha do horizonte a promessa de uma relação virtuosa. E aí?

Patrícia Gonçalves disse...

A nossa busca no outro dá o que falar... Um amigo filósofo me disse que o "amor de uma maneira simples é a projeção de nossa vontade e do que somos. Amamos aquilo que somos e iremos sempre desejar algo semelhante ao nosso eu, a nossa imagem". Acho que buscamos somente as afinidades, as emoções conhecidas, sob controle, pois quando deparamos com o nosso eu primitivo, com o nosso lado que de certa forma causa incomodo no outro, ver esse lado não trabalhado, esse lado que causa desconforto, gera medo e afugenta. O medo que é nosso, acaba sendo do outro.

Ai Beth, a dificuldade de se aceitar e acabar vivendo personagem de outro papel.

bjs