segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Céu azul e cabelos ao vento

Algumas vezes não sabemos a razão que nos leva a tomar determinada decisão, talvez, seja simplesmente a resposta rápida a algum tipo de angústia não identificada. Racionalmente não haveria espaço nem lugar para tal decisão, mas ela vem surgindo como um movimento sutil e quando você se dá conta, a ação já tomou lugar. Aprendi com um amigo sábio, que se há algum desconforto na alma, a origem deste desconforto deve ser removida o mais rápido possível, pelo bem de nossa paz de espírito, óbvio, e de toda nossa existência.

Algumas vezes quando tento me dar conta da justificativa lógica para fundamentar determinada decisão, uma coisa engraçada acontece, a resposta não me vem como uma idéia construída de forma elaborada, escrita. A resposta toma forma de uma imagem, muita forte, vem como uma cena de um filme que se repete ao longo do dia, inclusive com regras de enquadramento e luz. Essa é a única resposta que eu tenho.

Pois bem, recentemente uma imagem me persegue, na verdade, uma cena. Um carro em alta velocidade, um conversível antigo, claro, contra um céu azul, uma mulher ao volante, feliz, tranqüila, cabelos curtos e louros ao vento. A imagem é vista de baixo e parcialmente de trás, como se a câmara tivesse na altura da roda, na lateral esquerda, visualizamos parte do perfil da mulher. Determinada em seguir a diante, mas sem arrogância ou rigidez, serena com o vento, ela segue. A sensação é de liberdade, de correr ao encontro da vida. Liberdade suprema do existir. O vento refresca a alma, o sentir. Não há prisão, não há correntes, não há elos, pendências... Vida livre que curte a tarde, ou manhã de abril ou maio de céu azul, uma temperatura agradável que alegra e faz querer suspirar. “We are on a road to nowhere...”, toca a musica na rádio mental, trazendo lembranças de ontem... Talvez uma tarde de verão nas estradas das montanhas rochosas, contra o mesmo céu azul e a mesma temperatura agradável.

A música, trilha sonora da imagem, trilha to nowhere, momento to nowhere. O que importa é o tempo presente, momento vivido aqui e agora. O amanhã não existe, já dizia o poeta, bem como meu filho, do alto de seus 5 anos. Sim, o amanhã não existe. Lembremos, existe somente uma seqüência de hojes. Estamos presos na armadilha do tempo, sempre o tempo presente. Tempo passado e futuro contido no tempo presente, irremediável tempo infinito, sem saída para nenhum outro tempo, sem fim. O tempo presente não tem fim, é irremediável, infinito nele mesmo. Podemos variar de lugar, cores, roupas, sensações, mas o tempo presente é o mesmo.

Assim, deixemos a divagação e voltemos à mulher. Como se chama? Vai a algum lugar? Foge de alguma coisa, alguém? Ou é simplesmente uma mulher, a dirigir um carro, como sua própria vida, segura de seus caminhos, resoluta. O cenário se repete como uma imagem em looping, não há figurantes, cenário alternativos, árvores, pedras, pássaros. Somente o carro, a mulher, o céu azul, a estrada e os cabelos, ao vento. A velocidade aumenta a sensação de liberdade e o sentimento de poder, é um quase voar. Voar no tempo presente.

Corta a cena. Voltemos ao hoje, o aqui e agora, não mais o nowhere, mas o now here. (insight de um amigo)

Não me perguntes aonde vou,
o que sentirei amanhã,
se serei gorda ou magra,
o que vestirei ou comerei,
Certezas?
Poucas.
Meu nome, gênero e naturalidade.
Certezas pesam e não quero bagagem,
decidi viajar leve,
levar somente os desejos do momento,
o sim do agora,
o querer do aqui.
Planos? Sim, vários...
Com orientações e mapas,
Todos flexíveis!
A rota é alterada sempre que for necessária.
Felicidade do momento presente.

2 comentários:

Mariana Pinheiro disse...

Oi, tudo bem?

Li um trecho desse texto na comunidade "Almas inquietas". Então decidi vir aqui e ler mais.

Confesso que fiquei IMPRESSIONADA! me identifico MUITO com tudo que você escreve!

Parabéns, seus textos são ótimos, gostei de verdade! (:

Abraço!

Patrícia Gonçalves disse...

Obrigada, Mariana, obrigada mesmo!

Acho que as almas inquietas são muito afins (rsrssr), daí nossa identificação com os textos.

UM grande abraço,