Ando às voltas com o sentimento do inefável, nada a ser dito
das coisas impossíveis de serem ditas ou descritas, mesmo o sentimento maior da
existência e suas brumas matinais. Há muito descobri que tentar descrever algo é
reduzí-lo a uma condição menor. Assim, busco preservar a essência no silêncio, considerando
a transformação contínua de tudo, a reversibilidade é imanente a tudo e
todos, não somos nunca, estamos o tempo todo, continuamente. A eterna roda da
vida, girando...
“Acordou, entreabriu os olhos lentamente deixando a luz da manhã
passar de forma bem suave pela retina. Espreguiçou e olhou para o lado, sua
transformação havia sido completa, admirou a nova pele, linda, translúcida e
brilhante, como retoque se lambeu limpando os últimos vestígios de uma fantasia
rota. Livre, finalmente, a forma estava completa, agilmente pulou para fora do
ninho, se sacudiu e saiu à cata do melhor conteúdo.”