terça-feira, outubro 20, 2009

Esquecidos de Deus

Não, deus não é um homem claro,
apesar de ser falho,

o instante da morte, desconhece

há muito que deus nos esqueceu,
pobres anjos caídos,
relegados aos seus próprios fados,
amorfos, robóticos, autômatos, sem vida,
personagens sem graça de uma estória sem script,
perdemos a bossa,

a deus não interessa,
o dia de nossa sorte,
a dor de nossa angústia,
nem nosso instante de morte,

somos reféns de nossos próprios atos,
obreiros de nossa história,
somente a nós cabe,
o momento de nossa morte.

domingo, outubro 18, 2009

Nós seres comedores

Quem me conhece acompanha minha luta, batalha interna em me tornar um ser mais evoluído, integrado à natureza, e, por conseguinte, vegetariano. Há uns 9 anos que vivo entre estar vegetariano e onívoro. Um amigo disse que eu não era vegetariana e sim estava. Ele estava certo, nesses nove anos nunca fui totalmente vegetariana.

Tudo começou na gravidez, fui fazer yoga e tive oportunidade de conviver com seres mais evoluídos, que se preocupam com o planeta, energias e seres vivos não comestíveis. Sou uma pessoa altamente influenciável, ainda bem, na adolescência minha mãe vivia me dizendo para olhar as companhias, e eu morria de medo das más companhias que comiam criancinhas. Assim, passei incólume pela adolescência sem comer criancinha alguma.

Pois bem, nesse grupo comecei a ter preocupações com alimentação, arroz cateto, feijão azuki, algas, pastas de soja, pão sem glúten, clorofila, e por aí vai. Sou extremista do tipo radical, quando mergulho, mergulho fundo, não dou vôos rasantes. E assim, fiquei mais radical dos mais radicais, parecia que tinha nascido vegetariana. Tudo piorou quando influenciada por um amigo, comecei a querer me alimentar com comida crua, esse então comia pão assado no calor do sol. E, o interessante é que uma viagem leva a outra viagem e a outra, sempre com companheiros de viagem mais interessantes, que contribuem para encher nossa maleta de viagem cada vez mais com esquisitices. Dessas minhas viagens comecei a beber água com argila que é excelente, carvão vegetal em pó, clorofila, suco verde, suco vivo, babosa, erva de passarinho etc.

Recentemente, não tão recentemente, desde que me separei, há uns 4 anos venho tentando manter a alimentação mais saudável e não comer seres vivos com mobilidade.(Segundo um amigo, ele é carnívoro porque é contra comer seres imóveis, os vegetais nada podem fazer para fugir a nossa caçada). Mas, digo que é difícil, fico sempre na linha tênue em ser mais evoluída e me levar pelos anseios primitivos da carne. Assim, venho alternando períodos evoluídos com períodos de barbárie (desculpem-me, seres comedores de carne), mas é assim que me sinto.

Toda vez que acho que estou caindo em tentação entro naqueles sites vegetarianos que mostram porquinhos, vaquinhas, pintinhos com as estórias mais tristes de meus amiguinhos e eu choro horrores (meus filhos já até sabem e perguntam - mãe vc esta vendo a vitela de novo?). Depois, saio renovada e fico ainda mais determinada a não me deixar levar pelos meus instintos de predadora. Visitar esses sites aplaca minha fome de carne, mas da última vez não adiantou muito.

A primeira vez que sucumbi, eu já estava há um bom tempo sem comer carne e vivia sonhando com bacon, presuntos e costelas. Verdade, tinha um sonho que era recorrente, uma festa romana com bailarinas em roupas esvoaçantes dançando com pernis assados em bandejas. Não me pergunte o porquê das bailarinas, nem eu nem a analista decodificamos o sonho. Nessa época eu tive uma gastroenterite braba, quase morri (sou exagerada) fiquei três dias comendo papa de arroz sem tempero e óleo algum. No terceiro dia, tonta de fome fui ao supermercado comprar alimentos, e sem me dar conta me peguei parada em frente à seção de frios, fiquei namorando todos aqueles pastramis, presuntos, parmas e mortadelas. Não agüentei muito tempo, comprei meio quilo de alguma coisa vermelha, cheirosa e saborosa, não esperei nem chegar em casa, comi uns 3 sanduíches no estacionamento. No dia seguinte comi feijoada e no terceiro dia, um joelho de porco em um maravilhoso restaurante alemão. E o pior, é que não senti nada, nenhum mal estar, absolutamente, nada, nada que pudesse dar forma ou cor a uma possível culpa de comer meus irmãozinhos.

Os amigos deliram de felicidade quando você cai em tentação, é como se você tivesse uma doença grave, e, de repente, estivesse livre da morte. Não entendo.

A carne de vaca eu não como ate hoje, mas, de carne branca passei a comer carne bege, mais recentemente rosa e laranja. Já me percebi relativizando e reclassificando, o camarão é quase um vegetal, poderia ser uma planta, a lagosta também não conta, o peixe é peixe e Jesus distribuía, assim, não tem problema.

Da última vez, voltar a comer carne foi uma decisão do universo e não minha. Eu estava novamente sonhando com carne, me sentindo comendo picanha, mas, resistia bravamente, até um sábado que passei novamente por um jejum forçado. Cheguei em casa querendo enfiar o pé na jaca, liguei para uma amiga que estava passando mal, fiquei com preguiça de sair e acabei pedindo uma pizza. Consegui resisti à tentação de pedir uma pizza de peperoni e pedi uma de escarola, bem vegetariana!

Trinta minutas depois eu abro a caixa e meus olhos se arregalam, na caixa havia as mais lindas rodelas de lingüiça calabresa! Nem pensei em ligar e reclamar, pacientemente retirei cada rodela, uma a uma. Até que percebi meu dedos sujos e fui lamber as pontas, senti o sabor da lingüiça, lambi mais uma vez. Por fim, decidi lamber as próprias rodelas! Lambi umas quatro, na quinta decidi que poderia mastigar. Arrependida e com culpa cuspi a carne, mas engoli o sumo.... Olhei bem, olhei de novo e em um gesto repentino e impulsivo peguei todas as rodelas e joguei de volta na pizza. Enrolei bem e comi tudo, a pizza inteira, gigantesca, sozinha recheada de calabresa! (acho que nunca mais vou ter coragem de olhar um porco nos olhos novamente)

Como o meu amigo havia dito, não existem coincidências e temos que entender as mensagens do universo. Como ser inteligente (tudo bem, não entendi a geladeira), mas essa mensagem aqui era clara. A carne tinha chegado como um sinal do céu, como um presente para mim, e presentes a gente não questiona, ainda mais presente do universo. Assim, estou mais uma vez às voltas com meu lado bárbaro e comedor de seres (não por muito tempo, já que minha consciência e culpa não permitem), mas, até lá vocês, caros amigos, poderão ter o prazer de me convidar para um churrasco.



Beijos dominicais com sabor de picanha!!!

P.S - A tirinha é do sapobrothers

domingo, outubro 11, 2009

Maldição de Graham Bell

Acredito realmente que tudo é energia e estamos conectados. Neste caso aqui, eu e os eletrônicos. Outro dia, um amigo recente disse que precisamos perceber as mensagens do universo, já que as coincidências não existem.

Pois bem, preciso de ajuda. Primeiro, descobri que tenho a maldição de Graham Bell, é isso mesmo, fui amaldiçoada por Graham Bell. Estou fadada por quanto existir a ter problemas eternos com os telefones, e não somente os celulares os fixos também. Até aí nada, você pode dizer que não é surpresa dado o nosso serviço de telefonia. Esse ano, em curto espaço de tempo, troquei de telefone 4 vezes, pra desespero da área de TI.

O primeiro pregava peças, você discava para alguém, o telefone completava a ligação e quem atendia era outra pessoa. Ele tinha vontade própria, ligava sozinho como também desligava na cara da pessoa. De uma grosseria impar. Não ligava para ninguém que começasse com as 6 primeiras letras do alfabeto, nem para alguns números. Assim, minhas ligações ficavam limitadas a alguns números cabalísticos ou o que me restava do alfabeto. As pessoas reclamavam “você não liga mais pra mim”. Mas, como explicar que a culpa era do telefone. Mensagens na secretária, estas nunca chegavam e se chegavam, chegavam depois da reclamação de que eu não havia retornado. Desisti, e fiquei com a pecha de que sou um horror com o telefone, não atendo, não retorno etc...

O segundo, um palm magnifico, falava como todo bom telefone, além das mil e uma utilidades que eu nunca cheguei a descobrir. Também cozinhava, pregava botões e de tanto cair no chão desistiu de ser telefone. Só queria saber de tirar fotos, até atendia uma ligação de vez em quando, mas a coisa dele mesmo era fotografia.

O último durou um mês, e num ato total de rebeldia mantém em sua tela de cristal liquida uma imagem abstrata linda, digna de museu de arte moderna. Assim, não sei quem esta me ligando nem sei se estou ligando para o numero correto, mensagens nem pensar, só vejo um envelope azul piscando.

O fixo durante 3 meses fazia conference call com a vizinhança, primeiro com o pessoal do prédio depois se aventurou pras redondezas e foi para bairros distantes. O bom é que as pessoas são simpáticas, compreendem, desligam, te ajudam, teve um que até fez a ligação pra mim, já que eu não conseguia.
Mas, os meus problemas com telefone incluem também perda, assaltos, mergulho no vaso sanitário, refrigerantes e coisas mais. Por isso, a cisma da maldição...

Esse meu amigo que entende de coincidência disse que eu preciso compreender as mensagens. Eu ainda não entendi, e o pior, é que as mensagens continuam chegando. O rádio do meu carro também não quer ser um rádio, só mostra as horas. Há também a máquina fotográfica, o depilador e sei lá mais o quê.

E, agora a geladeira está tentando fazer contato comigo. Eu sei, eu sei pela insistência! Mas, meu Deus, eu não falo língua de geladeira e a assistência não funciona finais de semana e feriados.
Ela apita ininterruptamente (agora está silencio, de vez em quando ela cansa e pára, dá até pena), e acende umas luzinhas. Obviamente como mulher antenada e esclarecida busquei manual, site, fóruns e nada. Há todo um padrão de apitos, eles tocam em uma freqüência crescente, aceleram, diminuem e depois param. Cansada, sem compreender desliguei a pobre da tomada, acabei esquecendo e hoje de manhã quando fui abri-la, fui correndo ligá-la. Tentou novamente em seus esforços refazer os contatos, mas acho que desistiu já que há um bom tempo não mais apita.

Outro amigo disse que o que eu precisava mesmo era de um marido. Não sei... Será que os maridos captam as coincidências e as traduzem? Assim, sem marido, estou eu aqui a me perguntar que coincidências são essas, que mensagens são essas que me chegam e não percebo. Por favor, aceito conselhos, sugestões e o telefone da assistência técnica (rsrsr)

quinta-feira, outubro 08, 2009

Janela

Linhas tortas
que não traçam caminhos
geometria imprecisa
desse momento hora
que nunca termina
na bifurcação das ruas
os carros buzinam
um cheiro de camarão no ar
o céu se insunua entre as nuvens
da janela observo
o ir e vir das pessoas
a mudança das cores do sinal
da minha cadeira
através da janela
eu sinto a vida.