quando me olha
não sou eu
o que você vê
sou o seu reflexo, no espelho
eu não existo.
quando me ouve
não são minhas palavras
a pessoa que acorda
banha-se e vai embora
não sou eu
a refém de todas as horas
tampouco
em meio às ruas, os carros
às arvores estou
sem rosto e sem forma
estou além, lá,
acolá, embaixo
em cima, dentro e fora
a sombra na pedra sou eu
a teia que teima
no orvalho a flor
a brisa que leva o barco
a neblina que encobre a serra
sou o detalhe
a erva que nasce no jardim esquecido
a tarde que cai
busquei na memória encontros
no entanto
são meus passos que ouço no caminho
o atravessar da ponte é lento
como essas águas
olhadas da margem do rio.
não me espere pro jantar...
4 comentários:
Senti uma solidão.... e ao mesmo tempo a grande liberdade.
São antagonismos que temos que encarar.
Gosto muito dos teus versos.
Obrigada, Wal. Essa solidão me anda rondando a alma. Essa solidão foi sentida por outro e compartilhada comigo. Somos só, a trilha é nossa, é nosso trilhar, só cabe a nós sentir, daí o sentimento de solidão.
Também gosto muito de seus versos e de sua prosa!
Ah!!! solidões que se olham, enamoram-se e, por assim ser, acompanham-se, fraternalmente, deixando de sê-las.
Mornidões é o que refutamos, pois nossos anseios são ávidos, quentes, urgentes.
Não a esperarei para o jantar, pois estaremos lado a lado, vendo o passo passar, sem descompassar.
anônimo, que bom, é alentador!
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