Estava cansada da morte, decidiu que haveria de viver, sua opção era a vida. Viveu fundo a morte, foi triste, foi trágico, agora que acabou pensou em como viver. Primeiro viveu o luto, no inicio tentou negá-lo até que chegou tão fundo que sangrou, sangrou todas as dores, doeu fundo a solidão, a ausência. Talvez, lá no fundo houvesse um desejo de morte, mas se descobriu viva. Aí, teve medo da morte ser contagiosa, fez todos os exames, doía todos os órgãos, morria de medo do fígado e depois o intestino. Tanto procurou que descobriu hemangiomas, cistos e um puta medo de viver só. Estava só, ele havia ido embora, partido, todos aqueles meses, médicos, hospitais, cirurgias, e agora nada. Descobriu que não tinha nada, nada, nada que pudesse preencher, dar conta daquela ausência, se deu conta que a única coisa que tinha era seu próprio sentimento. O sentimento do outro fica com outro, o que nos alegra na relação é o saber amada. Assim, se deu conta de que estava só, e naquele momento a dor se fez mais forte. Não queria saber do seu amor, não queria sabê-lo presente. Tempos difíceis. Ainda bem, que o tempo passa, as estações passam e mudam as folhas, o céu fica mais azul e o sol tem o poder de nos aquecer. Hoje quando olha o ontem, ainda é visitada por um certo tipo dor, na verdade, não bem uma dor, uma saudade incômoda. Mas, quando se olha no espelho se vê mais forte, mais feliz e crescida. Mudou, tornou-se mais generosa, solidária, compreendeu o valor do tempo presente, do agora, o valor do eu te amo, do carinho. Ao longo do caminho as folhas caem, hoje os passos são mais silenciosos, a água do riacho corre e a brisa é fresca. Assim, quando é visitada por essas lembranças, abre as janelas do coração, deixa o sol entrar e aquecer tudo, o azul inunda, o verde cura e nesses momentos ela agradece a Deus pela vida, tão linda e tão preociosa.
P.S - Feliz dias dos pais!