domingo, abril 18, 2010

Caminhar

quando me olha
não sou eu
o que você vê

sou o seu reflexo, no espelho
eu não existo.

quando me ouve
não são minhas palavras

a pessoa que acorda
banha-se e vai embora
não sou eu

a refém de todas as horas
tampouco

em meio às ruas, os carros
às arvores estou

sem rosto e sem forma

estou além, lá,
acolá, embaixo
em cima, dentro e fora

a sombra na pedra sou eu
a teia que teima
no orvalho a flor
a brisa que leva o barco
a neblina que encobre a serra

sou o detalhe
a erva que nasce no jardim esquecido
a tarde que cai

busquei na memória encontros
no entanto
são meus passos que ouço no caminho

o atravessar da ponte é lento
como essas águas
olhadas da margem do rio.

não me espere pro jantar...

4 comentários:

Anônimo disse...

Senti uma solidão.... e ao mesmo tempo a grande liberdade.

São antagonismos que temos que encarar.

Gosto muito dos teus versos.

Patrícia Gonçalves disse...

Obrigada, Wal. Essa solidão me anda rondando a alma. Essa solidão foi sentida por outro e compartilhada comigo. Somos só, a trilha é nossa, é nosso trilhar, só cabe a nós sentir, daí o sentimento de solidão.

Também gosto muito de seus versos e de sua prosa!

Anônimo disse...

Ah!!! solidões que se olham, enamoram-se e, por assim ser, acompanham-se, fraternalmente, deixando de sê-las.
Mornidões é o que refutamos, pois nossos anseios são ávidos, quentes, urgentes.
Não a esperarei para o jantar, pois estaremos lado a lado, vendo o passo passar, sem descompassar.

Patrícia Gonçalves disse...

anônimo, que bom, é alentador!