terça-feira, junho 22, 2010

Corvos e Girassóis

A

imagem surge trazendo uma ruína no canto esquerdo do quadro
ruína de casa branca antiga, sem telhado, porta ou janelas
sem qualquer referência de passado, nenhum vestígio de história...

o sol incide a sombra na parede em queda
a sombra na pedra
o ar ainda úmido preserva o orvalho
manhã de nove horas 

Mais ao norte se estende o campo de girassóis
pintura espontânea nascida de uma palheta celeste
o céu de um azul puríssimo lembra a cor dos olhos dos anjos, 
anjos nórdicos, diferente dos anjos latinos ou asiáticos

Na mesma cena ao fundo grasnam corvos aos bandos
pintam o céu em uma nuvem que se aproxima
Sobrevoam o campo, e em permanente estado de luto, tristes, fogem do inverno.


À margem da imensa melancolia do revoar 
perdura a plasticidade da cena
os corvos grasnam a solidão da alma
o frio do inverno
a dor de existir

Fugiram de outro conto talvez
entre um virar de páginas e o molhar de dedos
e por certo, como libertos recentes não sabem aonde ir

Revoam aos bandos, fogem do quadro

Buscam melhores campos, paragens, memórias de outras histórias 
a mesma cena repetida a cada ano 
um parque, um jardim, umbanco,
talvez, em outro conto

uma mulher, os espera...


P.S - O poema homenagem feito a Van Gogh, talvez em todos nós resida um pouco de solidão e melancolia, um buscar de vida ou então um perder de vida.


32 comentários:

Anônimo disse...

Pintura triste, mas bela.

Valéria lima disse...

Captou o momento sublime da arte. Observações verdadeiras e os detalhes da sua construção, perceptíveis apenas por sensíveis artistas no olhar mecânico nos dias atuais.

BeijooO*

Helcio Maia disse...

Prefiro crer que é um "buscar de vida"...talvez, de outro conto, pois palavras, esperanças, sopros de alento migram, de pensamento para pensamento, o cinzento trocado pelo azul, o norte pelo sul...
Lindo texto, literal e graficamente, pois o design induz a movimento, a algo que assemelha ao vôo de pássaros ou gentes - ambos urgentes.

s a u l o t a v e i r a disse...

"Fugiram de outro conto talvez
entre um virar de páginas e o molhar de dedos
e por certo, como libertos recentes não sabem aonde ir"

Me sinto assim as vezes. Que caminho seguir? Ouço o coração.

Lindo!

Juan Moravagine Carneiro disse...

Impossível nõa se ver neste escrito


abraço

Anônimo disse...

gostei Patrícia, me identifiquei bastante com o poema, muito bonito mesmo

=)

beijo
Ge

meus instantes e momentos disse...

que bom conhecer teu blog.
Maurizio

Carol Morais disse...

"À margem da imensa melancolia do revoar
perdura a plasticidade da cena
os corvos grasnam a solidão da alma
o frio do inverno
a dor de existir"

Que lindo! Não tenho mais o que falar. Tb adoro o artista, temos muito o que falar sobre os quadros e as imagens mágicas que falam por nossos corações.

Um beijo!

♪ Sil disse...

As vezes a gente se ve aqui Pat.

Lindoooooooooooooo, pra variar!

Um abraço minha queridaaaa!

Sylvia Araujo disse...

De conto em conto, em busca ou entrega - e lá vamos todos!

Coisa bonita de sentir, esse doído, Patrícia.

Lindíssimo!

Beijocagiga

Iram Matias disse...

Que carinha linda!
Amei te ver lá na minha janela para o céu.
Beijos

Iram

Andrea de Godoy Neto disse...

Lindo, Patrícia...de conto em conto lá se vão as asas, de corvos ou de anjos

muito boa essa construção sobre o quadro de van gogh

beijos e obrigada por tua presença lá no blog

Andrea de Godoy Neto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Canto da Boca disse...

Sim, revoaram aos bandos, fugiram do quadro e encontraram outro, novo, mais um sentido, aqui nos Dias Genéricos, explodindo outros quadros, outras técnicas e estéticas.

Um beijão, e obrigada pelo carinho e pela visita no Canto, volte sempre, é prazer tê-la por lá!

P.S.
Que as tristezas de dias distantes nos permitam impedir novas nesse nosso presente tão promissor. Patrícia, estive em África e foi meu destino mais feliz! Ela já me encantava quando na minha meninice Gil me trouxe todas as suas cores e dores, com a Refavela, e então tornei-me esse continente!

dade amorim disse...

Patrícia, o poema perfeito para celebrar esse holandês abençoado e sem orelha. Posso um dia desses postar o poema lá no Poema-amigo?

Beijo beijo.

Patrícia Gonçalves disse...

Marcio, transmite o ser conturbado que ele era, mas também muita intensidade!

Patrícia Gonçalves disse...

Valéria, obrigada. Eu pintei um quadro chamado girassóis e mandei pra um amigo, como presente ele me enviou um conto chamado corvos. Imediatamente veio a inspiração, o email chamava Corvos e Girassóis. Amo Van Gogh!

Grande beijo

Patrícia Gonçalves disse...

Helcio, também gosto de pensar assim, o buscar de vida é muito mais agradável... assim, como o movimento de suas palavras!

Obrigada, moço!

beijo grande

Patrícia Gonçalves disse...

Saulo, também gosto desta parte!


Esse sentimento é bem familiar, liberdade recém conquistada que ainda não foi aprendida. Ouvir o coração é uma boa pedida, o problema é quando o coração fala outro idioma...

Obrigada, beijo grande

Patrícia Gonçalves disse...

Juan, obrigada, que bom que você se identificou!

beijo!

Patrícia Gonçalves disse...

Oi, Ge, obrigada por ter vindo ler, que bom que você gostou!

beijo!

Patrícia Gonçalves disse...

Maurizio, obrigada e volte sempre!

beijo

Patrícia Gonçalves disse...

Carol, obrigada!!!!!

Van Gogh por tudo que passou, por tudo que pintou sensibiliza bastante, abala as estruturas!

Grande beijo linda!

Patrícia Gonçalves disse...

Sil, que bom linda, venha sempre! É sempre bom receber seus abraços!

Obrigada!!!!!!

Beijo grande!!!!

Patrícia Gonçalves disse...

Syl, obrigada!!!!

Somos passageiros, de conto em conto carregamos mais que recordações, levamos pedaços de vida, arrancar esses pedaços dói...

Beijo Grande!

Patrícia Gonçalves disse...

Iram, também amei conhecer seu blog, foi a primeira vez que chorei ao ler um post! Quanta emoção!!!

Quero te contar uma coisa, os corvos desse poema são de Viena! Quando visitei a cidade fiquei encantada com os corvos! A imagem que ficou na minha lembrança é linda, o inverno, as árvores secas e os corvos no chão. Pensei neles ao escrever!

Beijo Grande

Patrícia Gonçalves disse...

Andrea, que bom você por aqui!

Fico feliz de você ter gostado! Foi um prazer imenso te ler! Estarei sempre por lá!

Beijo grande!

Patrícia Gonçalves disse...

Canto, obrigada, moça!

Oxalá você seja ouvida!!!Que lindo seu amor pela África e parabéns pelo seus versos!

O prazer é meu, poder te ler!

beijo grande!

Patrícia Gonçalves disse...

Dade, obrigada!!!! Será uma honra ter um poema meu em seu blog!!! Sou sua fã de carteirinha!!!

beijo grande!!!

Ester disse...

Patrícia,

Uma pintura forte e realista, assim como a vida, há uma beleza rústica na melancolia,
só os olhos do coração podem apreciar e sentir,

Bjs,

Patrícia Gonçalves disse...

Ester, olá!

A melancolia é bela, a beleza do contorno da poesia, necessária ao sentir, ao bailar da palavras.

Beijo grande

Anônimo disse...

linda homenagem para um cara que morreu na obscuridade