domingo, abril 04, 2010

Medo

Fiz uma enquete aqui no blog e perguntei sobre os medos nossos, não os de cada dia, mas, os da existência, aqueles que nos atormentam a alma. Do que você tem medo? Do que você tem mais medo? Da morte, da solidão ou da infelicidade? Uma minoria disse medo da morte e a outra parte se dividiu entre a solidão e a infelicidade. Assim, a morte perde de longe. Interessante, poderíamos dizer que o maior medo de todos seria a morte, a certeza da finitude, e por ser algo que nos escapa e não termos controle algum, temeríamos.

O que foge a nossa compreensão, tememos. O que foge a nossa construção, tememos. Temos medo de falhar, como também do sucesso, temos medo da solidão, mas também de relacionamentos, temos meda da morte, mas também do viver. O medo da morte paralisa para a vida. Mas o medo da vida, o não fazer, eterniza a morte a cada instante.

A enquete mostrou que os maiores medos são solidão e infelicidade. Mas, qual o medo da solidão? De que solidão estamos falando? Da condição de quem vive só ou da solidão da alma?
E, infelicidade? Condição de nunca estar alegre, contente, feliz? É possível? Podemos e temos todo o direito de nos permitir ficar tristes, mas para que insistirmos em uma condição que não nos é favorável? Se pensarmos um pouco, veremos que temos medo das condições que criamos. Solidão é uma condição que não é alheia ao nosso desejo. Somos responsáveis por tudo que nos acontece, sendo assim, tememos nossos próprios desejos, ou o pior, nossa incapacidade de mudar uma condição criada por nós.

9 comentários:

Anônimo disse...

Medo da solidão seria o temor ao eco de nossos gritos, aqueles que não lançamos ao vento, que engolimos, em seco? Nesse sentido, a tão temida solidão seria o encontro insólito com a parte de nós mesmos, que insistimos em manter acorrentada, nos labirintos do não dito, do não sentido, talvez, o que há de mais autêntico, cristalino e atordoantemente real?
Medo da infelicidade, então, estaria intimamente ligado ao medo da solidão? Novamente, a ameaça do eco, os passos perdidos, os vasos quebrados, os espelhos sem porta, as traças da paixão?

Patrícia Gonçalves disse...

Sim, poderiamos dizer que o medo da solidão seria o temor ao eco de nossos gritos, somente possíveis pelo vazio, por uma ausência completa de resposta interna ou externa a nós. A infelicidade também, mas o temor maior aqui é o não reconhecimento de nossa incapacidade de preencher o vazio, traçar novos passos, juntar os cacos, e nos ver nos espelhos das portas de cada um.

Anônimo disse...

Saberemos preencher esses vazios, nem que seja com vasinhos, em que plantemos sementes de cactus, que nos protejam da escuridão, para que possamos reunir os cacos e atravessar os espelhos.

Anônimo disse...

Medo da chuva forte demais,
medo da força do medo demais,
medo da demasia...
Tive medo que as águas levassem o que amo,
por isso, grito, chamo, proclamo
que haja, sempre, um porto alegre e outro seguro,
e que o amor consiga escapar do escuro.

Anônimo disse...

Medo da solidão, numa multidão de amores,
medo da escuridão, num turbilhão de cores,
medo da indiferença inodora, ainda que haja tantas flores,
medo de que a esperança evapore, sugada por tantos tremores,
medo de que seu olhar se demore
e não perceba as minhas dores.

Anônimo disse...

Patrícia, queria que vc lesse um lance que escrevi. Lá eu digo qual o meu medo.... e tem tudo a ver com teu pensamento.
Se der, vai lá.

http://walkyria-suleiman.blogspot.com/2010/03/medo.html

Patrícia Gonçalves disse...

Lindo, lindo anônimo. Seus versos me comovem. Seu poema do medo é uma coisa linda. Querido, não gosto de fazer promessas, mas se acaso meu olhar demorar demais, por favor, grite, chame, mande sinais de fumaça, talvez meu olhar não chegue, mas meus pensamentos e preces estarão contigo.
beijo

Patrícia Gonçalves disse...

Wal, tô indo lá agora...

Anônimo disse...

Disso estou certo, Pat.