Quem me conhece acompanha minha luta, batalha interna em me tornar um ser mais evoluído, integrado à natureza, e, por conseguinte, vegetariano. Há uns 9 anos que vivo entre estar vegetariano e onívoro. Um amigo disse que eu não era vegetariana e sim estava. Ele estava certo, nesses nove anos nunca fui totalmente vegetariana.
Tudo começou na gravidez, fui fazer yoga e tive oportunidade de conviver com seres mais evoluídos, que se preocupam com o planeta, energias e seres vivos não comestíveis. Sou uma pessoa altamente influenciável, ainda bem, na adolescência minha mãe vivia me dizendo para olhar as companhias, e eu morria de medo das más companhias que comiam criancinhas. Assim, passei incólume pela adolescência sem comer criancinha alguma.
Pois bem, nesse grupo comecei a ter preocupações com alimentação, arroz cateto, feijão azuki, algas, pastas de soja, pão sem glúten, clorofila, e por aí vai. Sou extremista do tipo radical, quando mergulho, mergulho fundo, não dou vôos rasantes. E assim, fiquei mais radical dos mais radicais, parecia que tinha nascido vegetariana. Tudo piorou quando influenciada por um amigo, comecei a querer me alimentar com comida crua, esse então comia pão assado no calor do sol. E, o interessante é que uma viagem leva a outra viagem e a outra, sempre com companheiros de viagem mais interessantes, que contribuem para encher nossa maleta de viagem cada vez mais com esquisitices. Dessas minhas viagens comecei a beber água com argila que é excelente, carvão vegetal em pó, clorofila, suco verde, suco vivo, babosa, erva de passarinho etc.
Recentemente, não tão recentemente, desde que me separei, há uns 4 anos venho tentando manter a alimentação mais saudável e não comer seres vivos com mobilidade.(Segundo um amigo, ele é carnívoro porque é contra comer seres imóveis, os vegetais nada podem fazer para fugir a nossa caçada). Mas, digo que é difícil, fico sempre na linha tênue em ser mais evoluída e me levar pelos anseios primitivos da carne. Assim, venho alternando períodos evoluídos com períodos de barbárie (desculpem-me, seres comedores de carne), mas é assim que me sinto.
Toda vez que acho que estou caindo em tentação entro naqueles sites vegetarianos que mostram porquinhos, vaquinhas, pintinhos com as estórias mais tristes de meus amiguinhos e eu choro horrores (meus filhos já até sabem e perguntam - mãe vc esta vendo a vitela de novo?). Depois, saio renovada e fico ainda mais determinada a não me deixar levar pelos meus instintos de predadora. Visitar esses sites aplaca minha fome de carne, mas da última vez não adiantou muito.
A primeira vez que sucumbi, eu já estava há um bom tempo sem comer carne e vivia sonhando com bacon, presuntos e costelas. Verdade, tinha um sonho que era recorrente, uma festa romana com bailarinas em roupas esvoaçantes dançando com pernis assados em bandejas. Não me pergunte o porquê das bailarinas, nem eu nem a analista decodificamos o sonho. Nessa época eu tive uma gastroenterite braba, quase morri (sou exagerada) fiquei três dias comendo papa de arroz sem tempero e óleo algum. No terceiro dia, tonta de fome fui ao supermercado comprar alimentos, e sem me dar conta me peguei parada em frente à seção de frios, fiquei namorando todos aqueles pastramis, presuntos, parmas e mortadelas. Não agüentei muito tempo, comprei meio quilo de alguma coisa vermelha, cheirosa e saborosa, não esperei nem chegar em casa, comi uns 3 sanduíches no estacionamento. No dia seguinte comi feijoada e no terceiro dia, um joelho de porco em um maravilhoso restaurante alemão. E o pior, é que não senti nada, nenhum mal estar, absolutamente, nada, nada que pudesse dar forma ou cor a uma possível culpa de comer meus irmãozinhos.
Os amigos deliram de felicidade quando você cai em tentação, é como se você tivesse uma doença grave, e, de repente, estivesse livre da morte. Não entendo.
A carne de vaca eu não como ate hoje, mas, de carne branca passei a comer carne bege, mais recentemente rosa e laranja. Já me percebi relativizando e reclassificando, o camarão é quase um vegetal, poderia ser uma planta, a lagosta também não conta, o peixe é peixe e Jesus distribuía, assim, não tem problema.
Da última vez, voltar a comer carne foi uma decisão do universo e não minha. Eu estava novamente sonhando com carne, me sentindo comendo picanha, mas, resistia bravamente, até um sábado que passei novamente por um jejum forçado. Cheguei em casa querendo enfiar o pé na jaca, liguei para uma amiga que estava passando mal, fiquei com preguiça de sair e acabei pedindo uma pizza. Consegui resisti à tentação de pedir uma pizza de peperoni e pedi uma de escarola, bem vegetariana!
Trinta minutas depois eu abro a caixa e meus olhos se arregalam, na caixa havia as mais lindas rodelas de lingüiça calabresa! Nem pensei em ligar e reclamar, pacientemente retirei cada rodela, uma a uma. Até que percebi meu dedos sujos e fui lamber as pontas, senti o sabor da lingüiça, lambi mais uma vez. Por fim, decidi lamber as próprias rodelas! Lambi umas quatro, na quinta decidi que poderia mastigar. Arrependida e com culpa cuspi a carne, mas engoli o sumo.... Olhei bem, olhei de novo e em um gesto repentino e impulsivo peguei todas as rodelas e joguei de volta na pizza. Enrolei bem e comi tudo, a pizza inteira, gigantesca, sozinha recheada de calabresa! (acho que nunca mais vou ter coragem de olhar um porco nos olhos novamente)
Como o meu amigo havia dito, não existem coincidências e temos que entender as mensagens do universo. Como ser inteligente (tudo bem, não entendi a geladeira), mas essa mensagem aqui era clara. A carne tinha chegado como um sinal do céu, como um presente para mim, e presentes a gente não questiona, ainda mais presente do universo. Assim, estou mais uma vez às voltas com meu lado bárbaro e comedor de seres (não por muito tempo, já que minha consciência e culpa não permitem), mas, até lá vocês, caros amigos, poderão ter o prazer de me convidar para um churrasco.
Beijos dominicais com sabor de picanha!!!
P.S - A tirinha é do sapobrothers
4 comentários:
Muito bom saber que tem gente mais maluca que eu em termos de alimentação...rsrs. Mas, como também ainda não alcancei o grau de evolução dos iogues, assim como vc eu também tenho minhas crises de consciência quando caio em tentação e como um boizinho - coisa cada vez mais rara. Da última que fui em uma churrascaria (para comer sushi), chorei feito louca pensando na morte dos bezerros, enquanto o garçom me olhava atônito ao me oferecer um pedaço de vitela. Resolvi não ir mais a churrascarias depois disso, para não correr o risco de ser expulsa por espantar a clientela.
Ainda como carne de vez em quando (cada vez menos), mas continuo firme no meu propósito de me tornar vegetariana convicta um dia. Como uma viciada em recuperação, estou deixando a carne aos poucos, me livrando primeiro das mais pesadas até um dia me livrar das mais leves. Um dia eu chego lá! E boa sorte na sua empreitada alimentar!
Beijo grande
Cara, tem gente pior que eu! Pelo menos, eu nunca chorei em churrascaria, não que eu me lembre... (rsrs)
Somos o que comemos, ou melhor, o que convidamos a visitar-nos. Isso vale, também, para pensamentos, crenças, vale dizer, todos os "entes" que trafegam em nós.
Decidi só comer o que me faz sorrir, o que me faz sentir melhor a essência da vida.
Por isso, após 23 anos sem carne vermelha, estou a caminho de um passo adiante. Em 2010, renunciarei ao peixe e ao frango.
A música, a poesia, os esportes, a natureza, o cinema, o teatro, a arte em geral dividirão o palco comigo e, na platéia, meu próprio olhar e outros olhares afins.
"Não há caminho, o caminho se goersifaz ao caminhar".
errata: "...o caminho se faz, ao caminhar.
Postar um comentário