Neste instante me vejo muda, calada, ausente de palavras e símbolos, perdida de significados. Qualquer instrumento afinado para tocar, descrever o momento. Notas surdas silenciam. Contemplação. Céu escuro pontilhado de estrelas. Infinitude. O ser desperto alça vôo e contempla sua própria eternidade. Mergulha no azul da prússia do universo, viaja a mais longínqua galáxia e traz poeira de estrela no bolso da alma. Quem somos e o que fazemos das nossas culpas, dos remorsos e todos quereres, tudo, tudo se perde neste abraço perfeito, na dobra do corpo que recebe o beijo. O caminho de volta para sempre perdido nas encruzilhadas das curvas, nos declives dos montes e bifurcações.
Cavalgada no prado, capim gordura que ondula, cheiro de mato, rocio cedo que umedece a face. O cavalo veloz imprime velocidade e voa no vento. Na corrida urgente carrega cabelos, boca, a mão que afaga a face. Beijos alados, doces, suaves, do sabor da flor, do amor, da paixão que vicia. No céu azul teu olhar na lua branca luzidia.
Quando a noite se esconde e as estrelas repentinam se apagam, os corpos no caminho se perdem. Na perdição dos sentidos, a respiração trôpega se corta e entrecorta, suspensa lança os corpos em fuga, cúmplices das sombras mudas. Fogem alados os dois aliados, voam alto bem alto, puros e inocentes voltam ao paraíso, de onde foram há muito deportados, e agora retornam, à casa, finalmente, perdoados. Parceiros da louca aventura em caminho acidentado. A nau sem porto que resgata o branco da espuma da onda que finda na praia. Viagem louca, caravana sem pouso, itinerante, de países perdidos e mares distantes. Seres encantados de contos de fadas, habitantes de cavernas e grutas escuras, despertos da hora convidam a celebrar.
Não quero voltar, me deixe lá, me abandone ao relento, perdida nas pedras, na areia, abraçada ao tronco da árvore, carvalho em flor. Quero ficar esquecida, esquecida de mim, da vida, perdida neste espaço de tempo nano eterno da minha pequena morte. Ah me deixe morrer, a morte é doce e nela me encontro.
Abro os olhos e nos vejo, abraçados, a representação do mais belo, estética divina, pintura, musica e toda poesia. Afinal, compreendo e sorrio tranqüila, agora sei, para este momento o verbo ainda não foi inventado.
(*) Reeditado
17 comentários:
PATRÍCIA,
SEN-SA-SIO-NAL !!!
COMO UM BLOG DESTES , NÃO TEM MAIS, MUITO MAIS ACESSOS.
SEU TEXTO É ABSOLUTAMENTE PROFISSIONAL.
TENHO UM BLOG DE HUMOR:
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COMBINADO?
ESTOU LHE ESPERANDO.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Patrícia...
tantas referências da minha alma
azul da prússia
capim gordura
a velocidade
o beijo do vento adobra, cavidade, vão do corpo que pede um beijo bálsamo...
Partícia
tbm quero ser deixada no paraíso que me ou fui desterrada.
Ainda tenho essa dúvida.
Querida
querida....
PV: bermu
TRad: roupa oficial do paraiso
Lindo!!
Para alguns momentos, não há verbos, mesmo. Nem mesmo adjetivos. São substantivos, inefáveis.
Se representáveis fossem, talvez, uma constelação de exclamações.
Patricia, como voce é querida!!
E realmente não há verbos, nem adjetivos.
O verbo não foi inventado.
Pessoas que escrevem como voce, são aquelas pessoas com leveza na alma, e um monte de delicadezas no coração.
Que bom ter voce por perto!
Um abraço grande minha querida!
"Ah me deixe morrer, a morte é doce e nela me encontro. "
Aiiiii, adorei! *_______* Adorei tudo, como sempre, mas quando li esta parte, tive que ler outra vez antes de seguir à parte final.
Eu também acho que a morte seja doce. Ela é sinónimo de fim, do findar de uma etapa, de renovação, de transmutação!
A vida é morte certa. Quem se dispôs a vivê-la, aceitou transformar-se em cinzas, como as Fênix, para depois renascer no seu estado mais puro.
A vida é cíclica, a morte é cíclica, e nenhuma das duas é sinónimo de fim.
Adorei querida!
Um beijo e linda semana!
ps: quanto ao meu noivado com a Wal...depois do último post dela, decidi que estamos em crise! Hahahaha!
Olá!
Li um comentário seu no blog de Sil ("Entre Aspas"), vim espiar e adorei teu espaço. Já virei fã e seguidora, viu?
Abraços
Lia
Blog Reticências...
oi , patricia !
sempre é bom passar por aqui e ler seus textos tão bem elaborados ...
como esse que acabei de ler .
um beijo grande pra voce !
Paulo, Obrigada!
Estou começando, é por isso que ainda sou pequininha... rssr
Escrevo com as víceras, me coloco toda, não é intelectual, preciso de combustível pra escrever.
Valeu pelo estímulo!
abração,
Ah, Wal, são tantas referências nossas.... Mas, se deixe levar pro paraíso, não pense, não questione. Que importa se vc foi ou se desterrou...
Esqueci o que é PV, vc sempre traduz, mas sou gaga demais!
beijão
HM, sim, silêncio e constelações, talvez um céu aberto sem nuvens e palavras!
bj
Sil, linda, pessoas como nós! Seu blog é de uma sensibilidade incrivel.
Não sei se tenho leveza na alma, algumas vezes me parece que é deveras pesada, e seu peso oprime meu coração.
Bom te receber aqui
Grande beijo!!!
Sarah, também acho que tudo é cíclico, morte e vida são eterno renascer. Mas, a morte de que trata o texto é a Le petit mort como dizem os franceses, e nessa também há um renascer em seu estado mais puro.
A Wal já disse que nada separa vocês! Nem questões ideológicas! KKKKK
beijão
Oi Lia, que legal! Seja bem vinda, também adorei seu espaço e já virei sua seguidora!
beijão
Oi, Moisés, obrigada e apareça sempre!
bj
Ah, quanta intensidade. Texto incrível, Patrícia.
Beijoca
Syl, obrigada, moça! Não sei viver de outra forma, assim, a intensidade é traduzida nos textos!
beijão
Patrícia,
Esta é uma prosa que versa, e versa muito. Um poema em prosa... ou uma prosa poética? Tanto faz. É algo pra ler e reler. Profundo, sensível, sensorial, tátil, mas tenho que ler mais. Muito bom.
Beijo grande,
Ivan Bueno
blog: Empirismo Vernacular
www.eng-ivanbueno.blogspot.com
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